Os autores descrevem o caso de uma doente de 62 anos, sem antecedentes psiquiátricos pessoais ou familiares até aos 52 anos, altura em que inicia ideias delirantes de conteúdo somático e hipocondríaco em que acredita ter ficado doente com um “problema na cabeça” após um pequeno traumatismo no local de trabalho. É internada pela primeira vez dois anos depois do referido traumatismo com o diagnóstico de perturbação delirante tipo somático, tendo tido alta com o delírio enquistado e sem crítica para o estado patológico. Inicia acompanhamento em consulta externa de psiquiatria, com má adesão terapêutica em ambulatório, com novo internamento cerca de 1 ano depois, por agravamento das ideias delirantes somáticas e hipocondríacas. Cerca de 3 anos depois, começa a manifestar sintomas maniformes de gravidade crescente (ideias sobrevalorizadas de grandiosidade, aumento da energia, taquipsiquia, aumento do débito do discurso, desinibição, elação de humor e redução da necessidade de sono); posteriormente o quadro agrava-se com o aparecimento de ideias delirantes persecutórias e alucinações auditivo-verbais, situação que motiva novo internamento, com um episódio maníaco franco. É feito o diagnóstico duplo de perturbação delirante e perturbação bipolar tipo I, numa doente com funcionamento pré-mórbido hipertímico. Desde então e durante cerca de 4 anos mantém-se com quadro clínico relativamente estável caracterizado por humor tendencialmente elevado, ideias de grandiosidade, discurso prolixo e de débito aumentado, aspecto externo por vezes excêntrico e sem crítica para o estado patoló- gico. Os autores discutem a evolução e as implicações clínicas de uma forma particular e relativamente pouco frequente da doença bipolar, a mania crónica.