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O artigo tem como objetivo compreender como a abordagem histórica é mobilizada na produção acadêmica de Magda Soares. Busca, nessa direção, com base, especialmente, em um corpus de quatro publicações, identificar as questões de pesquisa, as tendências historiográficas, a perspectiva epistemológica, as fontes e seu tratamento, as justificativas para a construção desse olhar e os resultados dos estudos. A análise indica que a História é mobilizada em três dimensões: a rememoração, o apoio à argumentação na discussão de problemas contemporâneos e como fazer historiográfico propriamente dito. As contribuições dos referidos estudos da autora se concentram nos campos da história da escolarização, das disciplinas escolares e do livro didático, e da história do letramento. A posição epistemológica por ela privilegiada apresentava-se coerente com sua atuação em pesquisa, divulgação científica e ação educacional, ao estabelecer relações entre os fenômenos estudados e as práticas sociais, culturais e políticas mais amplas.

Esse Número Temático Especial tem como foco primordial fomentar o debate e proporcionar a reflexão crítica sobre as inúmeras contribuições de Magda Soares para o campo da alfabetização e letramento no Brasil, de modo a destacar as reflexões que seus trabalhos suscitam e o modo como sua produção acadêmica e sua atuação profissional imprimiram marcas profundas em nossa educação.

No texto são tratados desafios históricos e contemporâneos relacionados à alfabetização. Na dimensão histórica, são problematizados alguns fatores extraescolares que explicam a difusão da alfabetização nos países ocidentais e alguns elementos que permitem considerar a relação entre alfabetização e sociedade, no Brasil. Na dimensão contemporânea, discutem-se a permanência de desafios históricos para alfabetizar, a necessidade de pensar a alfabetização em contextos culturais e históricos que envolvem tecnologias disponíveis em cada tempo, assim como alguns desafios da cultura escrita digital para a compreensão de mudanças e permanências na cultura escrita. Integram esses desafios o uso dos suportes, a disseminação de outros sistemas semióticos e a necessidade de estratégias para trazer, para o repertório dos alfabetizandos, a cultura manuscrita e a cultura impressa herdadas, bem como a cultura escrita digital.

Número Especial: DOSSIÊ “POLITICA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO EM FOCO: OLHARES DE PROFESSORES E PESQUISADORES”

Número Especial: DOSSIÊ “POLITICA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO EM FOCO: OLHARES DE PROFESSORES E PESQUISADORES”

Muitas atividades que realizamos no cotidiano, envolvendo a leitura e a escrita, são realizadas nos ambientes e gêneros textuais digitais. Redes sociais, aplicativos de mensagens como o Whatsapp, blogs, sites, dentre outros, vêm se constituindo em espaços que mediam comunicações escritas e orais. Na atualidade, muitos desses espaços de comunicação são híbridos e efêmeros, provocando novas formas de leitura e escrita e desafiando a escola e outras instituições a promoverem o ensino e a aprendizagem da cultura escrita digital. Isso nos leva a considerar a leitura e a escrita em sua dimensão cultural e social. Desde a invenção da escrita, os modos de escrever e ler dependem das demandas em torno do escrito e dos suportes. Ler, escrever e divulgar os escritos, de forma manuscrita, impressa e digital, por exemplo, traz mudanças no mundo da cultura escrita e produz diferenciação nos modos como essa cultura funciona. As invenções tecnológicas contemporâneas têm trazido grande impacto nas ofertas culturais de textos e nas formas simbólicas e materiais que são possíveis com a tecnologia, de forma que, hoje, se pode ler e escrever em aplicativos, em jogos, em livros de literatura digitalizados e digitais, entre outras ofertas. Com todas as transformações, alfabetizar em cada tempo é um desafio, pois, embora a aquisição do sistema de escrita alfabética implique habilidades específicas, essas aquisições precisam ser relacionadas a novas linguagens, suportes e usos.

Este artigo traz reflexões de uma investigação, de caráter colaborativo, sobre como as crianças, em processo de alfabetização, atuam em ambientes digitais com a linguagem verbal e outros recursos multimodais em eventos de uso de jogos, de produção de quadrinhos e de leitura de literatura digital e digitalizada. Baseamo-nos em estudos sobre história da cultura escrita, do livro e da leitura (Chartier), sobre literatura digital (Hayles), letramento (Street) e multimodalidade (Kress e Bezemer; Jewitt). Concluímos que as crianças, em período de apropriação do sistema de escrita alfabética, interagem com a escrita e a leitura de textos verbais e não-verbais, a partir de uma mediação adequada de professores e de colegas. Os recursos semióticos e multimodais presentes/acentuados em ambiente digital também ampliam a sua compreensão sobre os usos sociais da cultura escrita.

O artigo desenvolve uma análise comparativa de três edições da Cartilha Caminho Suave, sendo dois exemplares da década de 80 (1981 e 1984) e um de 2015. O autores têm como referência a história do livro, notadamente os trabalhos de Roger Chartier e Robert Darnton, estudos sobre a história da alfabetização, sobre a cultura visual (Armando Petrucci), tipografia e legibilidade (François Richaudeau). Serão descritos os formatos, a mise en page, elementos paratextuais, supressões e acréscimos entre as edições, buscando-se algumas articulações entre aspectos gráficos, editoriais e a pedagogia. Ao verificar permanências e principais mudanças no projeto editorial e outros fatores da edição, o trabalho também indica até que ponto as estratégias editoriais permitiram sua circulação até os dias atuais.