RESUMO: No presente artigo são apresentadas algumas semelhanças entre o pensamento de Paul Ricoeur e Karl Popper, de maneira especial sua crítica ao subjetivismo e ao psicologismo. Essa crítica está endereçada em Ricoeur à hermenêutica romântica com seu ideal de compreensão: “compreender o autor melhor do que ele se compreendeu a sí próprio. Em Popper a crítica está dirigida às epistemologias do mundo 2, isto é, centradas no sujeito ou no “Eu sei”. Ricoeur propõe como resposta ao psicologismo romântico a superação da intenção pelo sentido na interpretação, o que leva a um enfoque objetivo, que conduz a uma ontologia que se concentra não naquilo que o texto tem atrás de si (o que levaria ao psicologismo), mas na realidade que o texto descortina diante de si. Popper propõe a autonomia dos habitantes do mundo 3: poemas, teorias, interpretações, entre outros, com respeito aos habitantes do mundo 2. É essa autonomia a que possibilita a liberdade e humildade de uma aproximação crítica ao real, abrindo mão das teorias e interpretações que não dão mais conta da sua complexidade, substituindo-as por outras mais fecundas e abrangentes. A própria filosofia e a arte serão sometidas a esse esquema. Finalmente é proposto um elemento pontual no qual os dois autores coincidem: a valorização das mediações materiais enquanto enriquecimentos do real face ao enfoque oposto de Platão, para quem os entes materiais são sempre cópias empobrecidas das idéias. Palavras-chave: subjetivismo, psicologismo romântico, hermenêutica romântica, epistemologia. THE PRIMACY OF THE OBJECTIVE IN RICOEUR AND IN POPPER Abstract: This article presents some similarities between Paul Ricoeur’s and Karl Popper’s thoughts, especially related to their criticism of subjectivism and psychologism. In Ricoeur, the criticism is addressed to romantic hermeneutics with its ideal of understanding: “to understand the author better than he understood himself.” In Popper, criticism is directed to the epistemologies of world 2, centered on the subject or the “I know.” Ricoeur proposes the overcoming of intention by meaning in interpretation as a response to romantic psychologism. This sense leads to an objective approach. In turn, it leads to an ontology that focuses not on what the text has behind it (which would lead to psychologism) but on the reality that the text unveils before it. Popper proposes the autonomy of world 3’s inhabitants: poems, theories, and interpretations, among others, concerning the inhabitants of world 2. This autonomy allows the freedom and humility of a critical approach to reality, giving up theories and interpretations that no longer take into account their complexity, replacing them with more fruitful and comprehensive ones. Philosophy and art itself will be subject to this scheme. Finally, a specific element is proposed in which the two authors coincide: the valorisation of material mediations as enrichments of the real in the face of Plato’s opposite approach, for whom material beings are always impoverished copies of ideas. Keywords: subjectivism, romantic psychologism, romantic hermeneutics, epistemology.