1. 'Excessos' de modernidade:mobilidades mundanas, políticas e o refazer do urbano
- Author
-
Stefanelli, Alice and (tradutor), Cairo Prado de Carvalho
- Subjects
traffic ,automobilidade ,automobility ,Liban ,Líbano ,modernidade ,modernité ,mobility ,trânsito ,automobilité ,circulation ,Lebanon ,modernity ,mobilidade ,mobilité - Abstract
Aclamados como o epítome técnico e simbólico da modernidade, os automóveis também estão profundamente implicados na produção da mudança climática, imbricados no interior de um sistema global capitalista aparentemente todo-poderoso. O que uma análise antropológica do trânsito em áreas urbanas pode nos dizer sobre a duradoura força desse sistema? Enquanto em Beirute os carros são ao mesmo tempo desejados quanto necessários para se deslocar, fortes sentimentos de frustração estão tomando corpo entre moradores e itinerantes que encaram diariamente as sempre congestionadas estradas da cidade-capital. Essa frustração indica uma emergente "estrutura de sentimento" para/com a automobilidade do dia a dia, que tem criado desejos explícitos e concretos por alternativas de mobilidade, particularmente pelo transporte público, cujos estudiosos do setor consideravam estar morto. Nessa visão, ainda que os carros permaneçam sendo objetos cobiçados, em Beirute como em qualquer outro lugar, um "excesso" de automobilidade - de modernidade, poderíamos dizer - está na verdade enfraquecendo o domínio deles, e expondo uma potencial precariedade antes despercebida. O reconhecimento desse processo nos força a reconsiderar os pressupostos modernistas que temos sobre a inevitável predominância dos carros, e oferece esperança para futuros alternativos quanto à mobilidade. Cars are celebrated as the technical and symbolic epitome of modernity but are also heavily implicated in the making of climate change, imbricated within a seemingly all‐powerful global capitalist system. What can na anthropological analysis of traffic in urban areas tell us about the enduring strength of this system? While cars in Beirut are both desired and necessary to move about, strong feelings of frustration are taking shape among residents and commuters who face the ever‐congested roads of the capital city daily. This mounting frustration indexes an emerging ‘structure of feeling’ towards everyday automobility that has created explicit and concrete desire for alternative mobilities, particularly public transport, which scholars of automobility had pronounced dead. In this light, while cars remain objects of desire, in Beirut as elsewhere, an ‘excess’ of automobility –of modernity, we might say –is in fact weakening the dominance of cars, exposing a potential brittleness previously undetected. Acknowledging this process forces us to reconsider our modernist assumptions about the inevitable predominance of cars and offers hope for alternative mobility futures. Les voitures sont célébrées comme l’incarnation technique et symbolique de la modernité, mais elles sont aussi fortement impliquées dans la fabrication du changement climatique, imbriquées dans un système capitaliste mondial apparemment tout‐puissant. Que peut nous apprendre une analyse anthropologique de la circulation dans les zones urbaines sur la force durable de ce sys- tème? Alors que les voitures à Beyrouth sont à la fois dési‐rées et nécessaires pour se déplacer, un fort sentiment de frustration se fait jour parmi les résidents et les navetteurs qui affrontent quotidiennement les routes toujours encombrées de la capitale. Cette frustration croissante indique l’émergence d’une « structure de sentiment » à l’égard de l’automobilité quotidienne qui a créé un désir explicite et concret de mobilité alternative, en particulier les transports publics, qui avaient été longtemps déclarés morts. Dans ce contexte, si les voitures restent des objets de désir, à Beyrouth comme ailleurs, un « excès » d’automobilité – de modernité, pourrait‐on dire – affaiblit en fait la domination des voitures, exposant une fragilité potentielle jusqu’alors non détectée. Reconnaître ce processus nous oblige à reconsidérer nos hypothèses modernistes sur l’inévitable prédominance de l’automobile et offre l’espoir d’un avenir de mobilité alternative.
- Published
- 2022