Introdução: A Doença Renal Crônica (DRC) evolui com progressiva e irreversível perda das funções renais. Suas manifestações clínicas e complicações associadas ocasionam redução da capacidade física, baixa tolerância ao exercício, comprometimento da qualidade de vida (QV) autorrelatada e, consequentemente, dificuldade para realização das atividades de vida diária. Seus distúrbios clínicos e metabólicos, característicos da uremia, já estão presentes nos pacientes desde os estágios pré-dialíticos. Porém, a literatura ainda não é clara quanto à existência e aos fatores associados às alterações na função respiratória de pacientes com DRC pré-dialítica. Objetivos: Avaliar a função respiratória, a capacidade física e a qualidade de vida autorrelatada em pacientes com DRC pré-dialítica nos estágios três, quatro e cinco de evolução da doença e comparar com voluntários saudáveis. Métodos: Realizamos um estudo transversal, em que avaliamos 38 voluntários adultos divididos em dois grupos: um grupo controle (GC) com nove sujeitos saudáveis e um grupo experimental com 29 pacientes com DRC pré-dialítica estágios três, quatro e cinco (G3, G4 e G5 respectivamente) pertencentes ao Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), provenientes do Programa de Prevenção às Doenças Renais do Núcleo Interdisciplinar de Estudos, Pesquisas e Tratamento em Nefrologia da Universidade Federal de Juiz de Fora e Fundação IMEPEN (PREVENRIM – NIEPEN/UFJF). Critérios de inclusão: pacientes adultos, de ambos os sexos, pertencentes aos estágios três, quatro e cinco da DRC, que concordaram em participar do estudo através da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Os critérios de não inclusão foram pacientes com: idade superior 65 anos, doenças pulmonares previamente diagnosticadas, tabagistas, ex-tabagistas que fumaram acima 20 anos/maço e/ou que interromperam o hábito de fumar a menos de dez anos, alterações cognitivas e osteomioarticulares que comprometiam a realização dos testes, angina instável, infecção ativa nos últimos três meses, hipertensão arterial descontrolada (pressão arterial sistólica ≥ 200 mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥ 120 mmHg), em uso de medicamentos que influenciam a função da musculatura respiratória, como esteroides ou ciclosporina e que não concordaram em participar. Para formação do grupo controle, foram selecionados indivíduos saudáveis pareados por idade, sexo e índice de massa corpórea (IMC), respeitando os mesmos critérios de não inclusão. Todos os voluntários foram avaliados segundo o protocolo a seguir: Primeira Visita- Avaliação Médica e Fisioterapêutica; coleta de duas amostras de sangue, uma para análise de dados laboratoriais e outra para estocagem de soro; realização do Teste de Caminhada de Seis Minutos; Manovacuometria; e aplicação do Questionário de Qualidade de Vida Autorrelatada SF-36. Segunda Visita: Avaliação Espirométrica- Terceira Visita: Teste Cardiopulmonar de Exercício. Além disso, foram retirados dos prontuários dados referentes à avaliação nutricional. Análise estatística: Os dados foram expressos como média e desvio-padrão ou percentagem conforme a característica da variável. Para comparação entre os estágios, foi utilizada a ANOVA, Kruskal-Wallis ou teste do qui-quadrado. Para avaliar a associação entre as variáveis, foi utilizada a correlação de Pearson ou Spearman, conforme a característica da variável. Considerado significante um p < 0,05. Utilizado o Software estatístico SPSS 13.0 Resultados: Quando comparados aos indivíduos controle, não houve diferença entre os pacientes com DRC com relação à idade, sexo e IMC. A causa mais comum de DRC foi nefroesclerose hipertensiva (34,4%), seguida de glomerulonefrite crônica (20,6%) e doença renal diabética (17,2%). As comorbidades mais prevalentes foram hipertensão arterial (96,5%), dislipidemia (68,9%) e diabetes mellitus (24,1%). Houve diferença estatisticamente significante em variáveis laboratoriais como PTHi (GC = 71,2 ± 29,8pg/mL, G3 = 77,0 ± 24,9pg/mL, G4 = 114,2 ± 52,2pg/mL, G5 = 337,2 ± 283,0pg/mL e p = 0,004) e hemoglobina (GC = 15,0 ± 1,8g/dL, G3 = 13,7 ±1,4g/dL, G4 = 12,3 ± 1,3g/dL, G5 = 12,3 ± 1,6g/dL com p = 0,003). A Função Pulmonar não apresentou diferença estatisticamente significativa entre os grupos nos parâmetros espirométricos, porém, na manovacuometria, a pressão inspiratória máxima (PImáx) demonstrou diferença estatisticamente significativa em valores absolutos (GC = 95,0 ± 17,6cmH2O, G3 = 61,0 ± 26,8cmH2O, G4 = 60,5 ± 14,6cmH2O, G5 = 66,1 ± 25,3cmH2O, com p = 0,024). Igualmente, a maioria das variáveis estudadas relacionadas à capacidade física avaliada pelo Teste Cardiopulmonar de Exercício, como a potência relativa máxima (GC = 4,9 ± 1,3W/Kg, G3 = 3,7 ± 0,9W/Kg, G4 = 3,0 ± 1,2W/Kg, G5 = 3,2 ± 1,0W/Kg, com p = 0,007), e o consumo de oxigênio (VO2pico) (GC = 85,4 ± 18,2 %, G3 = 75,8 ± 18,3 %, G4 = 65,9 ± 16,0 %, G5 = 63,4 ± 16,0%, com p = 0,038) e à capacidade funcional medida através da distância percorrida no Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) (GC = 90,5 ± 7,6%, G3 = 93,9 ± 7,5%, G4 = 83,4 ± 9,5%, G5 = 83,0 ± 8,9%, com p = 0,017) apresentaram diferenças estatisticamente significantes. Além disso, a taxa de filtração glomerular (TFG) associou-se a variáveis laboratoriais (hemoglobina, r = 0,596 e p = < 0,0001), da função pulmonar (VEF1 (%) r = 0,349 e p = 0,020; PImáx (cmH2O) (r = 0,415 e p = 0,015) e da capacidade física (VO2pico (mL/kg.mim) r = 0,430 e p = 0,008) e funcional (TC6M (m) r = 0,556 e p = < 0,0001). Avaliando a qualidade de vida (QV) através do SF-36, observamos um declínio da mesma, nos domínios capacidade funcional (p = 0,003), aspectos físicos (p = 0,012), estado geral da saúde (p = 0,008), aspectos sociais (p = 0,002), com a progressão do estágio da DRC. A QV esteve associada a variáveis relacionadas à função pulmonar e ao teste cardiopulmonar de exercício. Vale ressaltar que houve uma importante correlação entre o domínio capacidade funcional avaliado pelo SF-36 e a distância percorrida no TC6M (r = 0,766 e p < 0,0001) e o VO2pico em valores absolutos no TCPE (r = 0,688 e p < 0,0001). Conclusão: Pacientes com DRC pré-dialítica apresentaram alterações na função respiratória e na capacidade física e funcional e a associação destes parâmetros com a TFG sugere que a progressão da doença agrava estas funções. Além disso, ocorreu uma piora da QV associada à piora da TFG e associação entre QV e capacidade funcional avaliada pelo teste de caminhada de 6 minutos e capacidade física avaliada pelo TCPE, indicando que a avaliação subjetiva realizada pelo questionário de QV reflete a avaliação objetiva avalida pelo TC6M e pelo TCPE e que podemos sugerir este instrumento como rastreio para avaliação de capacidade funcional/física em pacientes com DRC pré-dialítica. Introduction: Chronic Kidney Disease (CKD) evolves with progressive and irreversible loss of kidney function. Its clinical manifestations and complications cause reduction in physical capacity, low exercise tolerance, reduced quality of life (QOL) self-reported and therefore difficult to perform activities of daily living. Their clinical and metabolic disturbances characteristic of uremia, are already present in patients from the pre-dialysis stage. However, the literature is unclear as to the existence and the factors associated with changes in lung function in patients with pre-dialysis CKD. Objectives: To evaluate the respiratory function, physical capacity and self-reported quality of life in patients with pre-dialysis CKD stages three, four and five of the disease and compare them with healthy volunteers. Methods: We conducted a cross-sectional study that evaluated 38 adult volunteers divided into two groups: a control group (CG) with nine healthy subjects and a group with 29 patients with pre-dialysis CKD stages three, four and five (G3, G4 and G5, respectively) belonging to the Department of Nephrology, University Hospital, Federal University of Juiz de Fora (HU-UFJF), from the Program for the Prevention of Kidney Diseases, the Center for Interdisciplinary Studies, Research and Treatment in Nephrology, Federal University of Juiz de Fora and IMEPEN Foundation (PREVENRIM - NIEPEN / UFJF). Inclusion criteria: adult patients, belonging to stages three, four and five CKD, who agreed to participate by signing an informed consent. The exclusion criteria were patients with age over 65 years, previously diagnosed pulmonary disease, smokers, former smokers who smoked above 20 pack / years and / or who stopped smoking less than ten years, cognitive and musculoskeletal that compromised the testing, unstable angina, active infection in the last three months, uncontrolled hypertension (systolic blood pressure ≥ 200 mmHg and / or diastolic blood pressure ≥ 120 mmHg), using drugs that affect the function of the respiratory muscles, as cyclosporine and steroids or not agreed to participate. To form the control group, we selected healthy individuals matched for age, sex and body mass index (BMI), respecting the same criteria for inclusion. All volunteers were evaluated according to the following protocol: First Visit-Medical Evaluation and Physical Therapy; collection of two blood samples, one for analysis of laboratory data and one for storage of serum; completion of Six-Minutes Walk Test; Manovacuometry; and implementation of the Quality of Life Questionnaire Short Form-36 self-reported. Second Visit: spirometric evaluation. Third Visit: Cardiopulmonary Exercise Test. In addition, records were removed from the data on nutritional assessment. Statistical analysis Data were expressed as mean and standard deviation or percentage as the characteristic variable. For comparison between stages, we used ANOVA, Kruskal-Wallis test or chi-square test. To evaluate the association between variables, we used the Pearson correlation or Spearman, as the characteristic variable. Considered significant at p