Alguns estudos sugerem que a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) aumenta a frequência de hepatotoxicidade aos tuberculostáticos. Neste estudo, foram avaliados a prevalência e os fatores de risco para hepatotoxicidade aos tuberculostáticos (rifampicina, isoniazida, pirazinamida) em infectados e não-infectados pelo HIV. Selecionaram-se 162 pacientes com tuberculose, na faixa etária de 18 a 80 anos e internados no Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, 2005-2007. Os pacientes foram divididos em dois grupos: o primeiro, com 30 infectados pelo HIV; e o segundo, com 132 controles. Trata-se de estudo caso-controle. Adotou-se três definições para hepatotoxicidade: a) hepatotoxicidade I: aumento de três vezes o valor inferior normal (VIN) da alanina-aminotransferase; b) hepatotoxicidade II: aumento de três vezes o valor superior normal (VSN) da alanina-aminotransferase; c) hepatotoxicidade III: aumento detrês vezes o valor superior normal (VSN) da alanina-aminotransferase e duas vezes o valor superior normal da bilirrubina total. Os prontuários médicos foram recuperados no arquivo do hospital e as informações obtidas foram transferidas para banco de dados e analisados no programa estatístico SPSS 12.0. Nos grupos 1 e 2 a frequência de hepatotoxicidade I foi de 77 e 46%, respectivamente (p0,05). A média de idade foi semelhante para os dois grupos (36 anos no grupo 1 e 44 no grupo 2; p>0,05). De 17 pacientes com hepatotoxicidade (definição III), três não apresentaram sintomas e o tratamento comtuberculostáticos foi mantido. Por outro lado, de 22 que interromperam o tratamento, oito (36,4%) não preenchiam a definição de hepatoxicidade III e tiveram o tratamento interrompido porque apresentavam sintomas atribuídos a outras causas que não a hepatite tóxica. Nos dois grupos o etilismo foi semelhante (68% no grupo 1 e 64% no grupo 2; p>0,05) e associou-se à hepatotoxicidade apenas pela definição I. Em relação ao tempo de tratamento, até a ocorrência de hepatotoxicidade, a mediana foi de 14 dias no grupo 1 e de 11 dias no grupo 2 (p>0,05). Não houve associação entre o uso de antirretrovirais e a hepatoxicidade. Em resumo, na dependência da definição escolhida para hepatotoxicidade,a infecção pelo HIV em pacientes em tratamento da tuberculose pode ou não associar-se a ela. O alcoolismo foi um fator associado à hepatotoxicidade, nesses pacientes, independentemente de ele ser HIV positivo ou negativo. A mortalidade não foi mais freqüente nos pacientes HIV positivos. Os sintomas clínicos no pós-tratamento nem sempre definem o diagnóstico de hepatotoxicidade e nem a presença de sintomas devem ser sempre atribuídos à hepatotoxicidade. Previous studies suggest that human infection by HIV increases the frequency of hepatotoxicity to antituberculosis drugs. In this study, the prevalence and the risk factors for hepatotoxicity to rifampicin, isoniazid and pyrazinamide have been evaluated in HIVinfected and non-infected. 162 patients with tuberculosis have been selected, in the age range of 18 to 80 years, and admitted to the Hospital Eduardo de Menezes, in BeloHorizonte, 2005-2007. Patients were divided into two groups: 1) comprising 30 HIVinfected individuals; and 2) 132 controls. This is a case-control study. Three definitions for hepatotoxicity were used: a) hepatotoxicity I: a 3 times increase in the lower normal value (LNV) of alanine-aminotransferase; b) hepatotoxicity II: a 3 times increase in the normal superior value (NSV) of alanine-aminotransferase; c) hepatotoxicity III: a 3 times increase in the normal superior value (NSV) of alanine-aminotransferase and 2 times the normal superior value of total bilirubin. The medical records were retrieved from the hospital filesand information was transferred to an eletronic data bank and analyzed by SPSS 12.0. In groups I and II the frequency of hepatotoxicity I was 77% and 46%, respectively (p< 0.01). Using the hepatotoxicity II definition the frequency was 20% and 9.1%, respectively (p=0.107). For hepatotoxicity III the frequency was 20% and 8.3%, respectively (p=0,09). Hepatotoxicity was more frequent in men of both groups (77% in group 1 and 71% ingroup 2; p> 0.05). The mean age was similar for both groups (36 years in group 1 and 44 in group 2; p> 0.05). Of 17 patients with hepatotoxicity (definition III), 3 did not present symptoms and treatment with antituberculous drugs was continued. On the other hand, of 22 who suspended treatment, 8 (36.4%) did not fulfill the definition of hepatoxicity III and treatment was interrupted because they presented symptoms attributed to causes other than toxic hepatitis. In the two groups, alcohol abuse was similar (68% in group 1 and 64% in group 2; p> 0.05) and was associated to hepatotoxicity only for definition I. In relation to the time until the development of hepatotoxicity (definition I), the median was 14 days in group 1 and of 11 days in group 2 (p> 0.05). There was no relation between hepatotoxicity and the use of antiretroviral drugs. In summary, the frequency of hepatotoxicity is depend on the definition. Alcohol use was a factor associated with hepatotoxicity independently ofserological status for HIV. Mortality was not higher among HIV-infected individuals. The clinical symptoms in the post-treatment do not always define hepatotoxicity; the presence of symptoms can not always be attributed to the hepatotoxicity.