A arquitetura é a materialização da existência do homem no mundo, a paisagem urbana, portanto é a materialização da existência de uma civilização. A expressão coletiva, que representa uma cultura, reflete o espírito do lugar, ou seja, o Genius loci, que é o modo único que esta materializa sua existência no mundo, em determinado momento e circunstâncias. Isto posto, a pesquisa fundamenta-se na hipótese de que a disciplina da forma urbana, por meio das regras e parâmetros, influencia diretamente este movimento dinâmico, o que o torna um instrumento que reconfigura a lógica de expressão da coletividade, determinando um padrão genérico, que desconsidera a identidade social, ambiental e paisagística, ou seja, que não reflete o Genius loci. Esse padrão é constituído por diversas camadas, que é fruto de uma evolução normativa, que se superpõem, por vezes se contradizem ou anulam-se, tornando ainda mais complexa as ações do indivíduo no espaço urbano. Como consequência, há a criação de uma forma urbana massificada, esteticamente desvinculada do comportamento local, desprovida de características particulares e elementos originais, que não constituem imagens plenas de significado para as pessoas. No bojo das discussões sobre os paradigmas do planejamento urbano, especialmente aqueles ligados à construção das normas, à participação crítica popular nos processos, à legitimação dos acordos e à compreensão das autorizações legais, muitas teorias, ferramentas e metodologias têm explorado as alternativas para o planejamento e para a construção coletiva da paisagem por meio das normas disciplinadoras. No entanto, antes de propor alternativas para a estruturação de caminhos para a construção coletiva da paisagem por meio dos canais dos direitos da cidade, busca-se elucidar como é construída a base paramétrica que configura o modelo massificador vigente. É relevante compreender as motivações que estão diante dos parâmetros de controle adotados, muitas vezes importados e esvaziados, e que conformam o desenho das cidades e das suas construções. Assim, espera-se favorecer a elaboração de críticas embasadas que conduzirão proposições mais conscientes e consistentes. Por meio da análise das tipologias normativas que marcam a disciplina edilícia e urbanística no Brasil, demonstra-se que a disciplina da forma urbana, especificamente a que diz respeito à regulação das ações individuais sobre o lote, por meio da definição de regras e parâmetros, desenvolveu-se, ao longo da história, pautada no estabelecimento de padrões de ocupação urbana, alinhados aos interesses hegemônicos, isentando-se assim, de propor outras soluções mais aderentes às realidades locais. Todavia, o interesse a que o padrão atendia o tornava mais ou menos massificador, conforme a disponibilidade econômica, política e técnica, que definiu a capacidade de reprodução do padrão. Desse modo entende-se que a norma, como meio para o ordenamento da paisagem, é essencialmente padronizadora, mas não essencialmente massificadora, que é resultado da aplicação da norma como fim, ou seja, a paisagem é a sua materialização literal. Portanto, o problema não é a norma ou o padrão, mas o fato de eles não serem o resultado de uma interpretação da realidade local. Logo são desprovidos de identidade, contextualização e, por isso, não são legitimados. Architecture is a materialization of man's existence in the world, an urban landscape, therefore, is a materialization of the existence of a civilization, of a collectivity. The collective expression, which represents a culture, reflects the spirit of the place, that is, the Genius loci, which is by itself, the unique way that culture materializes its existence in the world at a given moment and under certain circumstances. Thus, the research was based on the hypothesis that, through the rules and parameters, the discipline of urban form influences directly in this dynamic movement, becoming an instrument that reconfigures the logic of the expression from collectivity. It determines a universal standard, that disregards the social, environmental and landscape identity, that is, that does not reflect the Genius loci. This pattern consists of several layers, the result of a normative evolution that overlap, contradict or annul one another at times, making the individual's actions in urban space even more complex. Consequently, we have created a massified urban form, aesthetically unrelated to local behavior, devoid of particular characteristics and original elements and that do not constitute images full of meaning for people. In the midst of discussions about paradigms of urban planning - especially those related to the construction of the rules, (critical) popular participation in the processes, legitimacy of agreements, and understanding of legal authorizations - many theories, tools, and methodologies have explored alternatives for planning and for collective construction of the landscape through the disciplinary norms. However, before proposing alternatives for structuring a collective construction model of the landscape through the rights of the city, it is necessary to elucidate how a parametric base that forms the current massifying model. It is relevant to understand the motivations behind the adopted parameters of control, often imported and emptied, and which eventually shape the design of cities and their constructions. Thus, it is hoped to favor the elaboration of grounded criticisms that will lead to more conscious and consistent propositions. Through the analysis of the normative typologies that marked the urban and urbanistic discipline in Brazil, it was demonstrated that the discipline of the urban form, specifically related to regulation of individual actions on the lot, through the definition of rules and parameters, has developed, throughout history, based on the establishment of urban occupation standards, in line with hegemonic interests, thus exempting itself from proposing other solutions more closely related to local realities. However, the interest that the standard met made it more or less massif, according to the economic, political and technical availability, which defined the standard/parameter reproduction capacity. This way it is understood that the norm, as a means for the ordering of the landscape, is essentially standardizing, but not essentially massifying, which is the result of the application of the norm as an end, that is, the landscape is its literal materialization. Therefore, we concluded that the problem is not the norm nor the standard, but it is the fact that they are not the result of an interpretation of local reality, thus being devoid of identity, contextualization and therefore not legitimized.