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Introdução/Objetivo: O uso intensivo de antimicrobianos está entre as principais causas da emergência da resistência bacteriana que hoje enfrentamos. Durante a pandemia da COVID-19 houve um aumento no risco de desenvolvimento de infecção secundária bacteriana com consequente aumento na prescrição de antimicrobianos, o que contribui para a seleção de bactérias resistentes e sua disseminação. O objetivo deste estudo foi evidenciar mudanças na epidemiologia da resistência bacteriana entre isolados clínicos de Enterobacterales, durante a pandemia de COVID-19, no Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ) – Fortaleza (CE). Métodos: Isolados bacterianos de amostras de escarro, LBA, aspirado traqueal, hemoculturas e ponta de cateter de pacientes internados no HSJ durante o período de 2020 à junho de 2023 foram submetidos ao Vitek® 2 para identificação e teste de sensibilidade. Nos isolados não repetidos de Enterobacterales resistentes aos carbapenens e às cefalosporinas de espectro estendido foram realizados os testes NG-CARBA-5® e PCR no Genexpert®CARBA-R para confirmação e detecção do tipo de carbapenemase. Resultados: No período estudado, 904 cepas de Enterobacterales isoladas foram incluídas no estudo. Destas, 426 (47,12%) mostraram-se suspeitas de produção de carbapenemases com confirmação de 271 (63,6%) pelos testes imunoenzimático e/ou genotípico. Dentre as confirmadas, 134 (49,44%) apresentaram KPC; 112 (41,33%) NDM; 3 (1,11%) IMP; 16 (5,90%) apresentaram coexpressão de KPC-NDM; 5 (1,85%) NDM-IMP e 1 (0,37%) coexpressão de KPC-IMP. A Klebsiella pneumoniae continua sendo considerada a maior produtora de carbapenemases com 243 (89,7%) isolados, seguida de Providencia stuartii com 8 (2,95%) e Enterobacter cloacae complex com 6 (2,21%), entre outras. Discussão: Verificou-se, no período do estudo, um aumento preocupante de Enterobacterales resistentes aos carbapenens e alteração significativa no perfil de resistência do hospital com a emergência de metalo-β-lactamases do tipo NDM e IMP, além de coexpressões de carbapenemases, o que reduz as opções terapêuticas e exige um melhor gerenciamento no uso das novas drogas. Desta forma, faz-se mister o uso dos testes para vigilância e detecção do tipo de resistência presente nos isolados suspeitos para orientar o tratamento, evitar desfechos negativos e reduzir os impactos da resistência bacteriana na saúde pública.

Introdução: A esporotricose é uma doença subaguda ou crônica causada por um fungo dimórfico do gênero Sporothrix spp. O contágio acontece por atividades ocupacionais envolvendo manipulação de solo/vegetais contaminados, ou pela arranhadura/mordedura de animais infectados. As formas clínicas mais frequentes são a linfocutânea e a cutânea fixa. O diagnóstico definitivo da doença é feito a partir do isolamento do fungo em cultura. Descrição do caso: Paciente do sexo masculino, de 17 anos, procedente de Fortaleza-CE, sem comorbidades prévias, buscou atendimento, em abril de 2023, no serviço de infectologia de um hospital público de Fortaleza, com histórico de arranhadura no punho esquerdo por um gato doméstico há 30 dias. O animal apresentava feridas no corpo há cerca de 2 meses. Foi prescrito inicialmente, amoxicilina/clavulanato por 10 dias e soro antirrábico humano. Em maio de 23, o paciente procurou novo atendimento, por não haver melhora da lesão, sendo realizado biópsia da lesão e cultura de fragmento de pele. Após 10 dias da biópsia de pele, o paciente foi avaliado no ambulatório de micoses sendo observado uma placa hiperemiada com crosta no punho e cadeia linfonodal no antebraço esquerdo. A biópsia de pele revelou dermatite crônica em moderada atividade, perivascular, focalmente espongiótica. Pesquisa negativa para BAAR, fungos e Leishmania. Após 35 dias de cultivo em Ágar Sabouraud Dextrose 2% e ágar Mycosel foi identificado crescimento de colônias enrugadas e acastanhadas/enegrecidas nas bordas, sugestivas de Sporothrix spp. A visualização microscópica com lactofenol azul de algodão mostrou hifas hialinas, septadas, ramificadas com conídios dispostos em cachos terminais semelhantes a uma margarida. A identificação da espécie foi realizada por espectrometria de massa de tempo de voo de dessorção/ionização a laser (MALDI-TOF VITEK-MS®), com valor de confiança de 99,9%, onde foi identificado Sporothrix schenckii. Foi iniciado o tratamento com itraconazol 200 mg/dia, e o paciente segue em acompanhamento no ambulatório de micoses. Comentários: No Ceará os casos de esporotricose são considerados raros. A inexistência de uma rede de atenção às micoses no Estado dificulta a identificação dos casos, reforçando a necessidade de implementação de políticas que visem a capacitação dos profissionais de saúde para a suspeição e diagnóstico precoce desta micose no Ceará.

S. aureus é um dos principais patógenos humanos, sendo resistente à meticilina (MRSA) um paradigma das infecções adquiridas no ambiente hospitalar e, mais recentemente, na comunidade. O objetivo deste estudo foi identificar S. aureus e MRSA em estudantes universitários de Fortaleza- CE. Foram analisadas 204 amostras provenientes de 102 estudantes, sendo 102 amostras obtidas da cavidade nasal e 102 das mãos. As amostras foram semeadas em Agar de Baird Parker e, as colônias circulares, de coloração negra, rodeadas ou não de um halo opaco ou transparente foram semeadas em placas contendo Agar nutriente e em tubos contendo caldo BHI. Em seguida foram realizadas Provas de catalase, coagulase e coloração de Gram. Os MRSA foram identificados por meio do teste de sensibilidade à oxacilina e à cefoxitina. Trinta e nove (38,2%) dos 102 estudantes estavam colonizados por S. aureus, sendo, o nariz, o principal sítio de colonização (48,7%), seguido das mãos (15,4%). Dois (3,8%) dos 39 estudantes colonizados apresentaram cepas MRSA e foram encontradas em dois (5,1%) estudantes da área da saúde. Este estudo evidencia elevada prevalência (38,2%) de portadores sãos de S. aureus em universitários de Fortaleza-CE, sendo 5,1% portadores de MRSA. O nariz foi o principal sítio de colonização (48,7%), seguido da narina e mãos (38,5%). A maioria (71,7%) dos estudantes colonizados pertencia à área da saúde, o que reforça a importância da identificação desses portadores sãos que podem ser fontes de disseminação na comunidade e no meio hospitalar.

Introdução: A pandemia pelo novo coronavírus trouxe mudanças no comportamento da população. O impacto do efeito do uso de máscaras, do distanciamento social e das mudanças de comportamento da população sobre a circulação dos agentes etiológicos das meningites é desconhecido. Objetivo: Descrever os agentes etiológicos em pacientes com meningite da comunidade durante o período de pandemia pelo COVID-19. Método: Estudo de coorte retrospectiva, de janeiro de 2019 a dezembro de 2021, composta por pacientes com suspeita de meningite, em hospital terciário de ensino, conveniado ao SUS, em Fortaleza, Ceará. A identificação do microrganismo foi por cultura para germes piogênicos, micobactérias, fungos, sorologia e RT-PCR para arbovírus, RT-PCR para SARS-CoV-2, FilmArrayR Meningitis/Encephalitis Panel (Biomérieux) e GeneXpert MTB/RIF (Cepheid). Resultados: Foram atendidos no hospital 721 casos suspeitos de meningite durante o período, e analisados 201 pacientes (28% do total). Em 143 (68%) houve confirmação de meningite. Cultura para germes piogênicos foi realizada em 92 (64%) pacientes, e os microrganismos encontrados foram: Cryptococcus sp. (n = 3; 3%), S. pneumoniae (n = 3; 3%), S. aureus (n = 1; 1%), S. suis sorotipo I (n = 1; 1%), S. agalactiae (n = 1; 1%), N. meningitidis grupo C (n = 1; 1%), K. pneumoniae (n = 1; 1%), L. monocytogenes (n = 1; 1%) e Corynebacterium jeikeium (n = 1; 1%). A cultura para fungos (Cryptococcus) foi positiva em 10 pacientes. A cultura para micobactérias foi realizada em 34 (24%) pacientes, com 2 (6%) positivas. O PCR Multiplex foi realizado em 105 (73%) pacientes, com identificação de S. pneumoniae (n = 16; 15%), N. meningitidis (n = 13; 12%), Vírus Varicela-Zoster (n = 8; 8%), Cryptococcus sp. (n = 7; 7%), Citomegalovírus (n = 6; 6%), Enterovírus (n = -5; 5%), HSV-1 (n = 3; 3%), HSV-2 (n = 2; 2%), S. agalactiae (n = 2; 2%), Haemophilus influenzae (n = 1; 1%), Herpesvírus 6 (n = 1; 1%) e Listeria monocytogenes (n = 1; 1%). Houve coinfecção em 3 pacientes. O RT-PCR para M. tuberculosis (MTB) foi realizado em 51 (36%) pacientes, com detecção em 13 pacientes (25%). No período estudado, houve dois casos de meningite por SARS-CoV-2 (2%). Conclusão: Identificaram-se uma ampla variedade de agentes etiológicos em circulação durante a pandemia. Apesar de S. pneumoniae e N. meningitidis terem sido os agentes mais frequentes, destacou-se a variedade de vírus. Foi relevante o incremento no diagnóstico das meningites pelos métodos moleculares em comparação com as culturas. Casos de meningoencefalite por COVID-19 foram identificados.