OBJETIVO: Estimar a prevalência e a distribuição social da doença respiratória na infância, estabelecer a tendência secular dessa enfermidade e analisar sua determinação, com base nos dados coletados por dois inquéritos domiciliares realizados na cidade de São Paulo, SP, em 1984/85 e em 1995/96. MÉTODOS: Os inquéritos estudaram amostras probabilísticas da população residente na cidade com idades entre zero e 59 meses (1.016 em 1984/85 e 1.280 em 1995/96). Nos dois inquéritos estimou-se a prevalência instantânea da doença respiratória alta (acima da epiglote) e da doença respiratória baixa com e sem chiado à ausculta pulmonar. A ocorrência da doença respiratória foi aferida por exames clínicos realizados em dias aleatórios, nos próprios domicílios das crianças, por médicos pediatras devidamente treinados e padronizados quanto ao diagnóstico da doença. Os exames clínicos incluíam a anamnese do dia, antecedentes de doença respiratória e o exame físico completo da criança, incluindo inspeção da orofaringe, otoscopia e ausculta pulmonar. Nos dois inquéritos, os exames foram distribuídos ao longo de um período de cerca de 12 meses, de modo a garantir uma varredura uniforme das várias áreas da cidade ao longo das quatro estações. O estudo da distribuição social da doença respiratória levou em conta tercis da renda familiar per capita em cada um dos inquéritos. A estratégia analítica para estudar os determinantes da evolução da prevalência da doença na população empregou modelos hierárquicos de causalidade, análises multivariadas de regressão e procedimentos análogos aos utilizados para calcular riscos atribuíveis populacionais. RESULTADOS/CONCLUSÕES: Houve entre os inquéritos aumentos expressivos na prevalência instantânea da doença respiratória alta (de 22,2% para 38,8%) e da doença respiratória baixa sem e com chiado (de 6,0% para 10,0% e de 0,8% para 2,8%, respectivamente). No caso da doença alta e da doença baixa sem chiado, o aumento é generalizado nos vários estratos sociais, o que não altera, no período, a situação discretamente menos favorável dos estratos de menor renda. No caso da doença baixa com chiado, o aumento se restringe aos estratos de renda baixa e intermediária, sendo particularmente intenso no estrato de menor renda, o que determina o surgimento de uma forte relação inversa entre a doença e a renda familiar. Mudanças positivas em determinantes distais das doenças respiratórias (renda familiar e escolaridade materna) e em variáveis relacionadas à salubridade das moradias justificariam declínio modesto e não aumento das doenças respiratórias na cidade. O aumento na freqüência a creches, observado no período, poderia contrabalançar o efeito positivo das melhorias em variáveis socioeconômicas e ambientais, mas não seria suficiente para justificar o aumento das doenças respiratórias na cidade. OBJECTIVE: Data from two consecutive household surveys undertaken in mid-80s and mid-90s allow to characterize and analyse secular trends in infant and child respiratory diseases in the city of S. Paulo, Brazil. METHODS: The two surveys included random population samples aged from zero to 59 months (1,016 in the period of 1984-85 and 1,280 in 1995-96). In both surveys the instant prevalence of high respiratory diseases (above the epiglottis) and low respiratory diseases with or without wheezing were calculated. All sampled children were examined in their household at a random day by trained pediatricians using standardized procedures. The examinations included medical history, past respiratory diseases and a complete physical examination. In both surveys the examinations were distributed throughout a period of almost 12 months to assure a uniform coverage of the various areas of the city along the four seasons of the year. For each survey, the study of the social distribution of the diseases took into account tertiles of the per capita family income. For the study of the determinants of secular trends, hierarchical causal models, multivariate regression analyses and calculations analogous to the ones used to assess population attributable risks were applied. RESULTS/CONCLUSIONS: In the time span from the first to the second survey, there was a substantial increase in the prevalence of both low (from 22.2% to 38.8%) and high respiratory diseases (from 6.0% to 10.0% and from 0.8% to 2.8%, without and with wheezing, respectively). In the case of high respiratory disease and low respiratory disease without wheezing, an increase in prevalence was observed among all social strata, which did not interfere with the slightly less favourable situation of the lower income groups. In the case of low respiratory disease with wheezing, the increase was only observed among middle and low-income groups, being particularly high among the lower income group, yielding a significant inverse gradient between income and respiratory disease. Positive changes in distal (family income and maternal schooling) and in intermediate determinants related to housing characteristics would have resulted in a decline, not an increase, in the prevalence of respiratory diseases in the city. The duplication in the attendance rate to day care nurseries seen in the period could have counterbalanced the positive effect due to socioeconomic and housing variables but would not be enough to explain an increase in the disease.