RACIONAL: A recurrência da hepatite C no período pós-operatório do transplante hepático é um dos principais desafios atualmente enfrentados pela comunidade transplantadora. O tratamento com interferon peguilado e ribavirina tem sido associado à resposta virológica sustentada em 21% a 45% dos casos e constitui a única conduta eficaz, até o momento, para mudar o curso da progressão acelerada da doença no período pós-operatório do transplante hepático, que pode levar à perda do enxerto e à necessidade de retransplante. No entanto, a portaria n° 863 do Ministério da Saúde não disponibiliza esse tratamento para pacientes com recidiva da hepatite C após o transplante hepático. OBJETIVOS: Avaliar as condutas de acompanhamento e tratamento de pacientes com vírus C submetidos a transplante hepático em diferentes centros nacionais. MÉTODOS: Foram enviados questionários à maioria dos centros de transplante hepático nacionais de adultos sobre condutas acerca de acompanhamento e/ou tratamento de pacientes com hepatite C. RESULTADOS: Dezenove centros nacionais que congregam mais de 2 800 pacientes (51% com hepatite C) submetidos a transplante hepático responderam o questionário. A maioria (53%) usa tacrolimus e prednisona como esquema de indução e 32% usam esquemas diferenciados para hepatite C. Treze centros fazem biopsia protocolar para seguimento, sendo empregados diferentes critérios histológicos para diagnóstico de recurrência. Todos os centros indicam tratamento com interferon peguilado e ribavirina apenas na recurrência histológica da hepatite C e 46% empregam estádios de fibrose inferiores a F2 de acordo com a classificação METAVIR, mais leves do que aqueles preconizados para tratamento de pacientes não transplantados. A duração do tratamento é de 1 ano em 32% dos centros, baseada no genótipo em 21% e a la carte em 47%. A maioria dos centros (84%) não interrompe o tratamento na 12ª semana, na ausência de resposta virológica. CONCLUSÕES: A despeito da portaria nº. 863 do Ministério da Saúde, todos os centros estão viabilizando tratamento mediante acordo com secretarias regionais de saúde ou por intermédio de liminares concedidas aos pacientes pela justiça comum.BACKGROUND: Recurrence of hepatitis C after orthotopic liver transplantation is one of the major clinical challenges faced by the liver transplantation community. Treatment of hepatitis C recurrence with peguilated interferon and ribavirin has been associated with sustained virological response in 21% to 45% of treated patients. Furthermore, it has been shown to halt disease progression after orthotopic liver transplantation and to prevent graft failure and the need for retransplantation at least in those subjects with sustained virological response. However, treatment of hepatitis C recurrence after orthotopic liver transplantation in Brazil was not recommended according to ministerial Law number 863. AIMS: To assess the management and treatment options of hepatitis C recurrence after orthotopic liver transplantation in different liver transplantation centers in Brazil. METHODS: Inquiries were sent to active liver transplantation centers throughout the country. RESULTS: Nineteen centers accepted to participate and answered the questionnaire. Altogether they transplanted around 2,800 subjects, half of them with hepatitis C. Immunosuppressive regimen is comprised by tacrolimus and short-term prednisone in 53% of the centers. One third of them claim to use different schedules for hepatitis C patients. Protocol biopsies for diagnosis of recurrence are employed by 13 centers. Different histological criteria are used for the either diagnosis or decision for treatment in most of the centers. Approximately half of them (42%) indicate treatment in subjects with less severe stages of fibrosis (less than F2 according to METAVIR classification). All centers are referring patients for treatment with peguilated interferon and ribavirin, for 1 year, for 6 months or 1 year based on the genotype, or a la carte based on response, respectively, in 32%, 21% and 47% of the centers. Most of them (84%) do not stop treatment in early non-responders at the 12th week. CONCLUSIONS: Even in the absence of national guidelines and federal support, most of the liver transplantation centers in Brazil are treating patients with hepatitis C recurrence after orthotopic liver transplantation.