Doutoramento em Estudos de Desenvolvimento A gestão de bacias hidrográficas tem uma dimensão inerentemente política uma vez que envolve tomar decisões que são limitadas pelos contextos institucionais, caracterizados por escassez de recursos e conflitos entre múltiplos atores, políticas e estruturas institucionais. No caso de nações em desenvolvimento que padecem de instabilidades políticas, a gestão de bacias hidrográficas torna-se um teatro político em que os principais objetivos de produção alimentar e gestão ambiental ficam fragilizados perante complexos interesses políticos que envolvem o controlo de recursos, a governação de organizações e a política partidária. Enquanto medida de recuperação no pós-guerra e com o apoio das Nações Unidas, a Nigéria adotou uma abordagem integrada para a gestão das bacias hidrográficas. Esta gestão cabe às Autoridades para o Desenvolvimento das Bacias Hidrográficas (ADBH) que estão sob a alçada do governo federal. A sua evolução reflete a instabilidade que caracteriza o federalismo nigeriano. Envolvidas numa política faccionária, com recorrentes intervenções militares e várias reformas no setor da água, as ADBH têm tido um desempenho abaixo do esperado. Este estudo visa explorar a economia política das ADBH na Nigéria, mais concretamente, a trajetória de desenvolvimento das ADBH enquanto reflexo do instável federalismo nigeriano. O documento está organizado em seis capítulos autónomos mas interligados que, no conjunto, encerram uma análise de nível macro e outra de nível micro. O primeiro capítulo descreve a forma como diferentes líderes nigerianos deixaram a sua marca no desenvolvimento das ADBH, desde a sua fundação até à presente administração de Muhammadu Buhari. De uma forma ou de outra, todos os grandiosos planos para aumentar a produção alimentar terminaram em nobres ambições. O capítulo inicia-se com a identificação dos motivos que desencadearam a reorganização da rede hidrográfica na Nigéria. O rescaldo da Guerra Civil, as secas na região do Sahel e a pressão da publicação do relatório das Nações Unidas em 1969 encontram-se entre os principais motivos. Depois de um fraco desempenho inicial em que vários princípios da gestão integrada das bacias hidrográficas foram ignorados, seguiu-se um conjunto de contributos de chefes de estado e presidentes. Infelizmente, nenhuma das promessas feitas surtiu os resultados esperados. O segundo capítulo analisa as ADBH à luz da turbulência que caracterizou o federalismo nigeriano, utilizando o paralelismo como estilo. Este capítulo inicia-se com a discussão do conceito de Federalismo enquanto sistema político e prossegue com a conclusão de que o federalismo existente na Nigéria é peculiar. No início do processo de independência nigeriano, os grupos étnicos não negociaram os termos deste federalismo e a governação militar continuada erodiu os já frágeis pilares criados pelos fundadores da nação. O sistema militar criou os estados e as áreas de governo locais por fragmentação, bem como os mecanismos federais, como são exemplo as três Constituições pós-independência e o Princípio do Carácter Federativo (PCF). O capítulo aborda igualmente vários fatores que influenciaram este paralelismo entre as trajetórias do federalismo nigeriano e das ADBH, nomeadamente, a delicada e volátil questão das minorias, o papel dos militares, o boom petrolífero da década de 70 e o PCF enquanto mecanismo de consociativismo e as recorrentes descontinuidades das políticas públicas e de governação. O paralelismo estabelecido mostra-nos que as ADBH tem uma trajetória que espelha a turbulência do federalismo nigeriano. O terceiro capítulo conclui a primeira parte da tese. Este capítulo foca-se nas reformas introduzidas por diferentes administrações das ADBH e na forma como a organização foi afetada por essas reformas. Os desafios colocados às ADBH começaram com a administração de Shagari, na década de 80, apesar da primeira tentativa para reposicionar as bacias hidrográficas ter ocorrido apenas no final dessa década, com o Programa de Ajustamento Estrutural de Babangida (PAE). Neste capítulo são detalhados o quadro de comercialização parcial criado e alguns dos seus conceitos centrais, as várias fases de preparação das ADBH para o seu novo estatuto, o seu processo de recapitalização e o cronograma da organização até se tornar financeiramente autossuficiente. Todo este processo foi condicionado pela cedência de Babangida à pressão pública e sua consequente demissão. Depois desta tentativa de comercialização das ADBH, várias outras se seguiram mas nenhuma foi bem-sucedida. No capítulo quatro inicia-se a segunda parte da tese, que corresponde a uma abordagem de nível micro à Autoridade para o Desenvolvimento da Bacia Hidrográfica do rio Lower Benue (ADBHLB), uma das doze autoridades existentes no país. Foi dado enfoque a como é que as dinâmicas observadas na primeira parte da tese ocorrem no contexto de apenas uma Autoridade. Este quarto capítulo documenta as observações conseguidas em projetos de irrigação da ADBHLB. As evidencias apresentadas provêm de dezasseis instalações da organização, incluindo a sua sede. Na conclusão do capítulo, são discutidos os traços característicos dos projetos de irrigação. Todos os projetos tem recursos naturais abundantes tais como vastos terrenos, acesso a água e localização em planícies férteis. No entanto, são disfuncionais e tornaram-se dívida pública. A constante mudança política deixou uma longa cadeia de construções inacabadas (e.g. a barragem inacabada de Guma, os terrenos abandonados em Tede ou sistemas de irrigação inacabados em Doma e Guma) e gestores de projeto desesperados. O capítulo cinco trata os impactos da fragmentação do federalismo ao nível de análise micro e detalha como é que o conflito de interesses se transformou à medida que o numero de partes interessadas na ADBHLB aumentou. Este capítulo dá-nos a conhecer como é que a ADBHLB reflete a instabilidade do federalismo nigeriano através de ilustrações da fragmentação estrutural da bacia hidrográfica da ADBHLB, que passou de dois estados fundadores (Benue e Plateau) para quatro (Benue, Plateau, Kogi e Nasarawa), após a fragmentação dos estados fundadores. O capítulo apresenta igualmente casos em que a ADBHLB se tornou uma plataforma política na medida em que os seus executivos de topo utilizam as instalações governamentais para alcançar os seus objetivos políticos. Neste capítulo, é possível concluir que os reveses descritos são um efeito em cascata da fraca negociação do federalismo na Nigéria. O sexto e último capítulo da tese dedica-se a como a ADBHLB respondeu à política de comercialização parcial de Babangida, o esforço renovado de Obasanjo e administrações seguintes. O capítulo inicia-se com a análise do quadro para a comercialização criado pelo governo federal e o plano articulado pela ADBHLB como resposta. O plano estratégico da organização traçou a forma como a ADBHLB se deveria impor no mercado competitivo mas não foi feita qualquer implementação. O capítulo finaliza com a conclusão de que o plano estratégico da ADBHLB foi mal sucedido, com base numa análise aprofundada dos relatórios do trabalho de campo realizado. Esta investigação foi afetada pela limitação do acesso a documentação oficial, tanto ao nível federal como ao nível da ADBHLB. Além disso, a falta de segurança vivida no país não permitiu a cobertura de todas as instalações da ADBHLB. Contudo, o estudo mostra claramente que o fraco desempenho das ADBH reflete a instabilidade do federalismo fragmentado nigeriano. A busca pela revitalização, reposição e comercialização parcial das ADBH deve ter em consideração as suas motivações. O documento termina com um conjunto de sugestões de pesquisa futura. Entre elas, inclui-se uma análise das políticas que estão a conduzir ao crescimento do número de ADBH e, em particular, ao argumento de que não há correlação entre a dimensão das ADBH e a dotação orçamental recebida do governo federal. The management of river basin organisations is inherently political, due to its unalienable constraints and institutional structures. Characterised by resources limitedness, conflicts of multiple actors, policies, and evolving institutional structures, river basin organisation often becomes the centre of political intrigue and power-play. In developing nations struggling with political instabilities, river basin management is the theatre of complicated politics, and its yield is often minimal since the primary goal of agriculture becomes emasculated by other interests. This study explores the political economy of the River Basin Development Authorities (RBDAs) as a mirror phenomenon of Nigeria’s peculiar and challenge-laden federalism. The mission of the RBDAs become an instrument in the politics of fissiparous fragmentations, recurrent military interventions, and a series of reforms in the water sector. In six separate but interrelated chapters, set out as macro-level and micro-level analyses, this study explores the development trajectory of the RBDAs as a reflection of the turmoil that characterises Nigerian federalism. The macro-analyses focus on the federal actors, while the micro-analyses examine the case of the Lower Benue River Basin Development Authority (LBRBDA). The literature review and the field trips confirm, at both levels of analysis, the claim that river basin organisation is intrinsically political. The study also found that the social life or the politics of the RBDAs derive its push from the general politics of its ambient environment, and bears a likeness to it, as exemplified by the case study. The quest to reposition Nigeria’s ailing RBDAs must further explore the role that politics plays in the creation and management of the RBDAs. The insights from the study will prove valuable to the stakeholders and policymakers. Considering the findings and limitations, the conclusion also highlights some areas for further research. info:eu-repo/semantics/publishedVersion