Tese de doutoramento em Psicologia, especialidade em Psicologia Clínica, apresentada à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra Introdução: Ao longo dos anos, a investigação tem confirmado, de forma sistemática, a eficácia da psicoterapia no tratamento de diferentes perturbações psicológicas e emocionais. Sistematicamente diferentes estudos parecem apoiar a perspetiva que as diferentes modalidades psicoterapêuticas possuem eficácias semelhantes. No entanto, apesar de parecer ser consistente a perspetiva que a psicoterapia é um tratamento eficaz, pouco ainda se conhece sobre os mecanismos ou processos que a tornam eficaz. O facto de a investigação prévia sugerir a existência de eficácia similar entre os diferentes modelos psicoterapêuticos parece apoiar a perspetiva de que são os fatores ou processos comuns que influenciam a mudança clínica. No entanto, esta perspetiva não é consensual, principalmente porque os diferentes modelos psicoterapêuticos têm focos de intervenção distintos. Neste sentido, parece ser importante esclarecer qual o contributo dos fatores específicos para a mudança clínica. Neste sentido, no estudo 1 da presente dissertação foi efetuada uma revisão da literatura com o objetivo de (1) sintetizar quais os processos de mudança em psicoterapia e (2) analisar qual o papel dos processos específicos nessa mudança. O Modelo de Assimilação das Experiências Problemáticas propõe uma explicação integrativa e transteórica sobre a mudança psicológica ao longo da terapia. Para este modelo, a mudança psicológica ocorre através de um processo gradual de integração e assimilação de experiências problemáticas previamente ignoradas ou evitadas. Apesar de estudos de caso prévios sugerirem a existência de uma associação entre a assimilação e o resultado terapêutico, urge consolidar empiricamente esses resultados em amostras maiores, com o objetivo de validar a perspetiva teórica do Modelo de Assimilação sobre a mudança clínica. Assim, no estudo 2 da presente dissertação (1) explorou-se a relação, teoricamente expectável, mas ainda com fraca evidência empírica, entre o aumento da assimilação e a diminuição da sintomatologia ao longo das 16 sessões de terapia. No sentido de ampliar os resultados obtidos elaborou-se o estudo 3 que teve como objetivo verificar (1) se o aumento da assimilação prediz a diminuição da sintomatologia clínica, ou, se pelo contrário, (2) a diminuição da sintomatologia clínica prediz o aumento na assimilação de experiências problemáticas. Uma das características mais relevantes do processo de assimilação de experiências problemáticas ao longo da terapia é instabilidade existente no seu progresso. Estudos prévios tiverem como objetivo caracterizar este processo, mas pouco ainda se conhece sobre qual a relação da instabilidade no progresso da assimilação com a mudança sintomática. Assim, no estudo 4 e 5 tentamos esclarecer essa relação. O estudo 4 teve como objetivo explorar a relação da instabilidade no processo de assimilação (1) com o progresso na assimilação e (2) com a evolução dos sintomas clínicos, enquanto o estudo 5 visou esclarecer a sua associação (3) ampliar os resultados obtidos no estudo 4, verificando como a instabilidade no progresso de assimilação se relaciona com a mudança sintomática sessão a sessão em dois casos contrastantes. Em suma, o objetivo primordial da presente tese foi ampliar o conhecimento existente relativamente aos processos promotores da eficácia terapêutica, nomeadamente, na sua relação com a mudança subsequente nos problemas, sintomas ou funcionamento dos clientes. Metodologia: No primeiro estudo da presente dissertação foi efetuada uma revisão da literatura sobre a investigação prévia relativa aos processos de mudança em psicoterapia. Nos estudos subsequentes utilizou-se metodologia de investigação mista, sendo a presente dissertação constituída por três estudos de caso e um estudo de amostra, todos longitudinais. A amostra utilizada na presente dissertação foi recolhida de um ensaio clínico que teve como objetivo comparar a eficácia da Terapia Focada nas Emoções e a Terapia-Cognitivo-Comportamental, no tratamento da depressão ligeira a moderada. Resultados: A revisão da literatura efetuada no estudo 1 apoia a perspetiva de que tanto os processos ou fatores específicos como os comuns têm um papel mediador na promoção da mudança terapêutica. No entanto, não foi possível confirmar a associação entre os fatores específicos e as terapias que supostamente os suscitam. Isto reforça ainda mais a necessidade de se estudarem modelos transteóricos, como o modelo de assimilação. No estudo 2, os resultados sugeriram uma associação entre maior assimilação das experiências problemáticas e menor intensidade dos sintomas clínicos. Relativamente ao estudo 3, os resultados permitiram verificar que a assimilação foi um melhor preditor da mudança sintomática do que o inverso. Os resultados do estudo 4 e 5 validaram a perspetiva de que o processo de assimilação se caracteriza por instabilidade, no entanto, não confirmaram a relação entre a instabilidade no processo da assimilação e o resultado terapêutico. Conclusões: De uma forma geral, os resultados da presente dissertação apoiam a perspetiva de que a mudança terapêutica ocorre através de processos psicológicos abrangentes e complexos. Especificamente, a presente dissertação apoia empiricamente a importância do papel da assimilação das experiências problemáticas no processo de mudança, contribuindo para aumentar a compreensão sobre os processos promotores da eficácia terapêutica. As implicações para a investigação em psicoterapia e para a prática clínica foram discutidas. Abstract Introduction: Over the last decades, research has consistently established the efficacy of psychotherapy in the treatment of different psychological disorders, however far less is known about the mechanisms and processes that make it effective. While some studies support the hypothesis that processes (or factors) common to different psychotherapies explain clinical change, others advocate the contribution of the specific factors of each therapeutic approach. In this sense, the first study encompassed a revision of the literature aiming (1) to synthesize the processes of change in psychotherapy and (2) to clarify the role of the specific processes in such change. The assimilation of problematic experiences model proposes an integrative and transtheoretical explanation for the therapeutic change process. To this model, psychological change occurs through a process of integrating problematic experiences that were previously ignored or avoided and that needed to be gradually assimilated by the client. Although previous case studies seem to suggest the existence of an association between assimilation and therapeutic success, it is crucial to consolidate these findings in larger samples in order to validate the theoretical claim of the assimilation model about the therapeutic change process. Thus, in study 2 (1) the theoretically expected relation between the increase in assimilation and the decrease of clinical symptoms was explored across 16 sessions of therapy in a case study. To amplify the results obtained in study 2, study 3 was developed aiming to verify (1) whether increasing assimilation predicted the decrease of clinical symptoms, or if (2) decreasing clinical symptoms predicted increases in assimilation. One of the most relevant features of the assimilation change process is the instability in its progress. Previous studies aimed to describe and explore this process; however, little is still known about the relationship of instability in the assimilation progress and therapeutic outcome. Study 4 aimed to explore how instability in the assimilation process relates to (1) the progress of assimilation of problematic experiences and with (2) the evolution of clinical symptoms. Study 5 aimed to broaden the obtained results exploring how instability in the assimilation progress relates to the therapeutic outcome, session-to-session, in two contrasting cases. In this sense, the primary aim of this thesis was to broaden the existing knowledge regarding the processes promoting therapeutic efficacy, in particular, its assotiation with subsequent changes in the client’s problems, symptoms or functioning. Methodology: A revision of literature was carried out in study 1 focusing in the current state of research on the mechanisms of change in psychotherapy. In the subsequent studies, a mixed research methodology was used resulting in three case studies and a sample study, all longitudinal. The sample used in this dissertation was collected from a clinical trial aiming to compare the efficacy of Emotion Focused Therapy and Cognitive-Behavioral Therapy in the treatment of mild to moderate depression. Results: The revision of literature carried out in study one seems to support the assumption that common and specific processes have a mediator role in promoting therapeutic change. However, it was not possible to confirm the association between the specific factors and the therapeutic modalities that intentionally promote them. In study 2, the results suggested a negative association between the assimilation of problematic experiences and the intensity of clinical symptoms. Regarding study 3, the results allowed to verify that assimilation progress was a better predictor of the decrease in the intensity of clinical symptoms than the inverse. The results of study 4 and 5 supported the assumption that the assimilation process is inherently instable, however, these did not confirm the relation between instability in the assimilation process and therapeutic outcome. Conclusions: Overall, the results from the present dissertation seem to support the assumption that therapeutic change occurs through comprehensive and complex psychological processes. More specifically, this dissertation contributed to empirically validate the theoretical expectation about the assimilation of problematic experiences being a key process for psychological change. In this sense, the results of this dissertation helped to understand a little more about the processes that may promote therapeutic efficacy. Implications for the field of psychotherapy research and for clinical practice were discussed.