Orientador: Elena Brugioni Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem Resumo: Esta tese investe sobre o discurso da tradição e da modernidade no contexto da Côte d'Ivoire e de Angola, a partir de uma leitura crítica e comparatista dos romances Les soleils des indépendances, de Ahmadou Kourouma, e Lueji: o nascimento de um império, de Pepetela. Para tal, o fio condutor desta pesquisa é trazer à luz o que se entende por tradição e modernidade e qual a relação entre essas duas categorias. Ao discorrer sobre essa relação manifestada na literatura, objetivamos responder, a partir e nos dois projetos literários em tela, a algumas perguntas-chave, a saber: a tradição poderia ser considerada uma representação fixa ou imutável do grupo social que a expressa? A modernidade, como momento histórico, caracterizar-se-ia pela antitradição, pelo fim das convenções, dos costumes e das crenças? Caberia falarmos do suposto desaparecimento da tradição? Ela está, como se argumenta, em processo de desaparição? Ou estaria se transformando e criando novas identidades culturais diante do inexorável avanço da modernidade? Considerada a complexidade dos temas e a necessidade de desconstruir postulados que vêm servindo de base para reflexões estereotipadas sobre as sociedades africanas, partimos de uma perspectiva dos Estudos Pós-coloniais, elegendo autores como Stuart Hall (2003, 2019), Homi Bhabha (2019), Edward Said (2011), Henrique Dussel (1993), Achille Mbembe (2001), Georges Balandier (1976), Eric Hobsbawm e Terence Ranger (1997), Yves-Valentin Mudimbe (2019), Anthony Giddens (1991, 2002), entre outros, para argumentar que as noções de tradição e modernidade não podem ser vistas apenas como polos antagônicos, mas como conceitos que se complementam, pois estão inscritos na história e em constante mudança. Demonstramos que tais alegações se refletem, de forma concreta e distinta, nos projetos estéticos literários de Ahmadou Kourouma e Pepetela, em que as representações revelam forte diálogo entre formas orais tradicionais e formas literárias convencionais (em termos de modo e gênero), aspecto que consideramos como contraponto às regras estabelecidas pelo colonizador, mas sobretudo como reivindicação das próprias identidades culturais. Nesse caminho, os estudos de Franco Moretti (2000), Ana Mafalda Leite (2010, 2012), Makhily Gassama (1995) e Harry Garuba (2012a, 2012b) são referenciais teóricos centrais. A análise dos projetos literários investigados, notadamente seus componentes narrativos, mostra que tanto a tradição quanto a modernidade são categorias dinâmicas e irrestritas, no sentido de que são sujeitas a mudanças contínuas. A análise evidencia também que os romancistas criam paradigmas inovadores para produzir novos arranjos socioculturais e identitários, isto é, o resgate de certos valores e tradições, a rearticulação com a cultura do colonizador outrora imposta e a inserção no contexto da cultura global, conciliando os movimentos internos e externos Abstract: This thesis explores the discourse of tradition and modernity in the context of Côte d'Ivoire and Angola, based on a critical and comparative reading of the novels Les soleils des indépendances, by Ahmadou Kourouma, and Lueji: o nascimento de império, by Pepetela. In this sense, the common thread of this research is to highlight what is meant by tradition and modernity and what is the relationship between these two categories. In addressing this relationship manifested in literature, we seek, from the two aforementioned literary projects, to answer some key questions, namely: can tradition be considered as a fixed or immutable representation of the social group that lives it? Would modernity, as a historical moment be characterized by anti-tradition, by the end of conventions, customs and beliefs? Can we speak of a supposed disappearance of tradition? Is it, as it is claimed, disappearing? Or would it be transforming and creating new cultural identities in the face of the inexorable advance of modernity? Considering the complexity of the themes and the need to deconstruct postulates that have served as the basis for stereotypical reflections on african societies, we start from a perspective of Postcolonial Studies, by choosing authors such as Stuart Hall (2003, 2019), Homi Bhabha (2019), Edward Said (2011), Henrique Dussel (1993), Achille Mbembe (2001), Georges Balandier (1976), Eric Hobsbawm and Terence Ranger (1997), Yves-Valentin Mudimbe (2019), Anthony Giddens (1991, 2002), among others, to argue that the notions of tradition and modernity cannot be seen only as antagonistic poles, but as concepts that complement each other, as they are inscribed in history and constantly evolving. We demonstrate that such allegations are reflected in a concrete and distinct way in the literary aesthetic projects of Ahmadou Kourouma and Pepetela, in which representations reveal a strong dialogue between traditional oral forms and conventional literary forms (in terms of fashion and genre), an aspect that we consider as a counterpoint to the rules established by the colonizer, but above all as a claim to their own cultural identities. In this sense, the studies of Franco Moretti (2000), Ana Mafalda Leite (2010a, 2012b), Makhily Gassama (1995) and Harry Garuba (2012a, 2012b) are central theoretical references. The analysis of the literary projects studied, in particular their narrative components, shows that tradition and modernity are dynamic and irrestrictible categories, in the sense that they are subject to continuous change. The analysis also shows that novelists create innovative paradigms to produce new socio-cultural and identity arrangements, i.e. the recovery of certain values and traditions, rearticulation with the culture of the colonizer once imposed and integration into the context of global culture, by reconciling internal and external movements Doutorado Teoria e Crítica Literária Doutora em Teoria e História Literária CNPQ 170382/2018-4