O propósito deste trabalho consiste em perscrutar as categorias de particular e universal no pensamento de Theodor Adorno, cotejando-o com o pensamento de Hegel. Fundamentalmente, pretende-se investigar as relações entre o particular e o universal na esteira da dialética sob três perspectivas de análise: a epistemológica, a sociológica e a estética; mas, enfatizando o primado do estético sobre o epistemológico e o sociológico, assente na hipótese de que, se na justaposição entre o particular e o universal, as relações objeto e conceito e indivíduo e sociedade a reconciliação está interditada; na relação entre a arte e mundo administrado, diferentemente, abre-se – ainda que como possibilidade - um espaço de reconciliação. A impossibilidade de reconciliação entre objeto e conceito e entre indivíduo e sociedade é inferida da interpretação adorniana segundo a qual o conceito e a sociedade tendem a subsumir e reduzir, respectivamente, o objeto e o indivíduo à universalidade ao obstar o caráter não idêntico de ambos, bem como ao destituir seus potenciais negativos e não idênticos latentes. Ao contrário, na esfera do estético, o nexo entre a arte e o mundo administrado afigura um estado de reconciliação possível, haja vista que a obra de arte se efetiva na realidade empírica sem oprimir e tampouco dirimir os seus elementos antagônicos constitutivos à identidade formal do construto estético, que, por sua vez, se estabelece como ente não idêntico em relação à realidade social empírica, transpondo a aspiração de redenção do não idêntico do seio da configuração da obra de arte para as relações extraestéticas. Portanto, o intuito desta tese é, doravante, examinar a sustentabilidade da hipótese segundo a qual a obra de arte pode ser tomada enquanto um modelo formal constelatório e não normativo, que se expressa como um protótipo para a efetivação de modos possíveis de conhecimento e de vida em sociedade, na medida em que tanto sua configuração interna quanto sua resposta à exterioridade manifesta a recusa das particularidades não idênticas de sucumbir às forças coercitivas do universal, cujo esforço é reduzir o particular e o não idêntico à universalidade e à identidade. Para a realização deste empreendimento, tomar-se-á como ponto de partida as categorias de mediação, individuação, mônada e utopia, formulados, sobretudo, nas duas principais obras da “maturidade filosófica” de Theodor Adorno: a Dialética negativa e a Teoria estética. The aim of this work is to analyze the categories of particular and universal in Theodor Adorno's thought in confrontation with Hegel's thought. More precisely, the purpose is to investigate the relationship between the particular and the universal in the context of dialectical thought, from three perspectives of analysis: i) the epistemological, ii) the sociological and iii) the aesthetic; but, emphasizing the primacy of the aesthetic over the epistemological and sociological, based on the hypothesis that, if in the juxtaposition between the particular and the universal, the object and concept and individual and society relations, reconciliation is blocked; in the relationship between art and the administered world, differently, a space for reconciliation is opened – even as a possibility. The impossibility of reconciliation between object and concept and between individual and society is inferred from the Adornian interpretation according to which concept and society tend to subsume and reduce, respectively, object and individual to universality by preventing the non-identical character of both, as well as depriving their latent negative and non-identical potentials. On the contrary, in the sphere of the aesthetic, the nexus between art and the administered world represent a possible reconciliation’s state, considering that the work of art is carried out in empirical reality without oppressing or reducing its antagonistic elements that constitute the formal identity of the aesthetic construct, which, in turn, establishes itself as a non-identical entity in relation to the empirical social reality, transposing the aspiration to redeem the non-identical from the heart of the configuration of the work of art to extra-aesthetic relationships. Therefore, the purpose of this thesis is, henceforth, to examine the sustainability of the hypothesis according to which the work of art can be taken as a constellation and non-normative formal model, which expresses itself as a prototype for the realization of possible ways of knowledge and of life in society, insofar as both its internal configuration and its response to externality manifest the refusal of non-identical particularities to succumb to the coercive forces of the universal, whose effort is to reduce the particular and the non-identical to universality and identity. For the realization of this undertaking, the categories of mediation, individuation, monad and utopia will be taken as a starting point, formulated, above all, in the two main works of Theodor Adorno's “philosophical maturity”: Negative Dialectics and Aesthetic Theory.