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Em Teatro Novo, assistimos, paradoxalmente, à desmontagem dos mecanismos da ficção teatral. A representação corresponde ao estado real das coisas (sociedade, condutas), tornando a verdadeira representação, a do teatro, impossível. Em Garção, o teatro é ocupado pelo mundo. O teatro serve o mundo, em particular o mundo dos esquemas de fraude capitalista, com Aprígio, o «corretor dourado», e Bigodes, o explorador colonialista, à cabeça. Ao mesmo tempo, este mundo não depende de fases históricas, pelo menos quanto às gerações ainda vivas; para velhos e novos, é sempre igual a si próprio, sem que a interferência das mudanças (de moda, estilo, forma, hábito) altere a essencial hipocrisia, ou ficção estabelecida, que o rege. Neste mundo, o teatro não só é impossível, como é desnecessário e inútil, uma vez que não consegue oferecer-se como alternativa. Teatro Novo permite-nos sair do mundo para entrar no teatro, de maneira a mostrar que não escapamos do primeiro. Daí o seu fracasso original: a peça de Garção não nos deixa ir ao teatro. O artigo que lhe falta é o sinal da falha: teatro novo não tem teatro nenhum.

I. — LA PREMIÈRE QUESTION : CELLE DE L’AUTEUR La question qui se présente d’emblée devant l’œuvre de Bernardim Ribeiro est celle de l’auteur. Des siècles de recherches menées autour de l’existence de ce poète et prosateur ont abouti à des résultats, en vérité, infructueux. Sans cesse revient la même interrogation, qui a monopolisé l’attention de presque tous les chercheurs, les historiens et les simples curieux de la littérature portugaise, et qui a produit des centaines de pages et de nombre...

La fin du Moyen Âge et la Renaissance sont un moment essentiel dans l'émergence du sujet en tant qu'auteur rendant compte d'une expérience particulière d'interprétation et/ou d'existence. Les éléments naturels et le paysage ont leur part dans la constitution de cette identité. Les études réunies ici interrogent cette relation entre la nature et la subjectivité, essentiellement à partir des représentations littéraires et au travers de plusieurs axes de réflexion. Comment les éléments naturels sont-ils convoqués pour participer à l'émergence du sujet ? Comment la description subjective de la nature contribue-t-elle à la naissance du paysage ? Quel rôle tient la médiation spirituelle entre l'homme et la nature, œuvre de la création divine ? En fin de compte, à quoi servent les éléments naturels sinon à ce que le sujet se connaisse mieux et se situe par rapport au monde et à l'autre, humain ou divin ?

Ao passar em revista as edições d’Os Lusíadas do século XIX, verificámos a presença de dois fenómenos caracterizadores do trabalho editorial durante a maior parte da centúria: a permanência de um ideário neoclássico e o predomínio do hibridismo. A doutrina dum Camões romântico foi muito menos dominante do que normalmente se supõe, dada a pervivência das orientações e preocupações de rigor preceptivo retórico‑poético e a rápida implementação, em torno do Tricentenário (1880), dum cientismo genético bem representativo do republicanismo da época. Em todo este processo, as edições foram combinando elementos de vária proveniência, lições textuais e aparatos paratextuais, raramente resultando em projectos autónomos e consistentes.

Em modo de post-scriptum a toda uma série de publicações do autor acerca de Camões e da literatura portuguesa renascentista, o artigo aborda (pre)conceitos que estão na base da crítica camoniana actual e que parecem tão constitutivos dos comentários e interpretações quanto débeis nos seus fundamentos. O artigo apela a uma nova compreensão da obra de Camões, finalmente integrativa da presença dos seus vários Outros, esquecidos ou diminuídos ao longo dos séculos.

Passam‑se em revista as questões relativas à primeira edição d’Os Lusíadas, em particular as diferenças entre os exemplares conhecidos, à luz da mais recente bibliografia. As edições comentadas, a “dos piscos” (1584) e a seguinte (1591), são tratadas como um par, pelas semelhanças de origem e propósito, não obstante diferenças significativas da segunda em relação à primeira. A última edição portuguesa quinhentista da epopeia camoniana (1597) é objecto duma revalorização, não só pelas intervenções muito menores da Censura inquisitorial, manifestadas no parecer do padre revedor, mas sobretudo pela qualidade poética de alguns dos novos versos introduzidos.

Referem‑se todas as traduções espanholas d’Os Lusíadas constantes da Biblioteca de D. Manuel II. Presta‑se especial atenção ao problema dos períodos em que o poema épico foi mais traduzido, à questão dos princípios observados pelas traduções do português para o castelhano e à questão da prioridade e primacial importância d’Os Lusíadas (por comparação com outros textos literários portugueses) como objecto de tradução na Espanha do Siglo de Oro e do último terço do século XIX.

Os estudos acerca da recepção da poesia portuguesa do século XVI em Espanha sofreram sempre duma atenção excessiva a Camões. O mesmo continua a acontecer ainda hoje. No entanto, a investigação realizada sobre o Siglo de Oro ao nível do número de edições e sua relação com a popularidade das obras, da relação entre impressão tipográfica e canonicidade, das bibliotecas particulares e da proporção relativa da literatura portuguesa nos inventários que delas se conhecem, e ainda ao nível das traduções e intertextualidades concretas, permite concluir sem dificuldade acerca da circunscrição indevida e do excesso desatinado daquela atenção. A própria observação atenta de documentos espanhóis da época mostra que se exigem doravante interpretações do fenómeno da leitura portuguesa em Espanha descomprometidas com aquilo a que já Carolina Michaëlis chamava a “monomania camoniana”.

Edição crítica do Canto Primeiro do poema "Sepúlveda e Lianor" de Jerónimo Corte-Real (1.ª edição de 1594), com comentário em rodapé, prólogo, introdução e índice analítico.

A partir duma análise comparativa de certas passagens de Os Lusíadas e do Sepúlveda, procuram detectar-se tipologias da alusão que Corte-Real aplica à sua intertextualidade com a epopeia de Camões.

Num ensaio reunido nos seus Estudios Portugueses, Eugenio Asensio leu um poema de Jerónimo Corte-Real, La Felicissima Victoria…de Lepanto, impresso em 1578, que lhe recordou Luis de Góngora. Nesta comunicação, argumento que semelhanças entre o poema português e a célebre Fábula de Polifemo y Galatea de 1612 giram em torno do tópico classicista e renascentista do locus dirus e que, explorando, desenvolvendo e alargando as sugestões do lusófilo espanhol, é possível encontrar coincidências materiais entre os dois poemas, algumas delas inclusivamente mais próximas e mais interessantes do que aquelas reveladas até hoje pelas várias pesquisas em torno das fontes poéticas do Polifemo.

Entry in Encyclopedia

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Analysis of the sonnet "O céu, a terra, o vento sossegado" in terms of historico-poetic setting, theme, comparison with other Portuguese and English poems, and «micro-signification», a concept introduced by S. Reckert, the philologist and literary comparatist to whom this essay is dedicated.

artigo de dicionário

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Vasco Mouzinho, an exact contemporary of Shakespeare's, put into print, in his first volume of poetry of 1596, a set of 51 sonnets. Some of these poems have been remarked for the depth of their subjectivity, others for their allegorical conventionality. My reading of number 40 in the series will show, however, that Mouzinho was interested, like Petrarch before him, in articulating those two types of discourse together. A poem about love, sonnet 40 is also an intensely meaningful discussion about the connections between intimate 'feeling' («sentir») and outward 'knowing' («conhecer»), between old emblematic representation and modern writing on the subject, and therefore about the powers and the limits of poetry itself.

Estudo da recepção áurea espanhola da literatura portuguesa do século XVI, com referência especial às traduções de poesia épica e, dentro destas, à tradução dum poema de Jerónimo Corte-Real pelo poeta Pedro de Padilla, publicada inicialmente em 1597 e aqui reeditada.

Estudo de marcas textuais de épica quinhentista portuguesa não camoniana nas obras cervantinas "Viaje del Parnaso" e "Persiles y Sigismunda".

Os comentários à obra de Camões, desde a Restauração da independência (em 1640) à implantação da República (em 1910), passando pelo Pombalismo e pela Geração de 70, constituíram essencialmente uma narrativa de derrogação da diferença. Ocamonismoloi o discurso dominante nesse longo período, um discurso que aqui se pretende descrever, mostrando como toi tundado, como se desenvolveu e como diferiu, sob alguns aspectos capitais, do primeiro período de recepção da obra camoniana (1572-1639).

The chapter deals with the question of whether the epic poem by Luís de Camões suffered the influence of Lactantius's Divine Institutions as far as the doctrine of Euhemerism is concerned.

An introduction and revision, in Spanish, of literary theory in 16th and early 17th- century Portugal, divided into four sections: 1. Prologue 2. The Portuguese have not got a tête théorique? 3. Theory of narrative: the development of a model 4. Theory of imitation: agon between contemporaries. Several previously accepted ideas in scholarly publications are put forward and revised or rejected here, including the lack of theoretical and critical writing by Portuguese early modern authors, the initial absence of Aristotle’s Rhetoric, misunderstandings around the Horatian concept of in medias res and principles of literary history based on Renaissance theoretical writing. Furthermore, one of the first open defences ever written of the autonomous organic nature of Poetics in the West is shown to be by a Portuguese. In the last section, a case of poetic rivalry shows how much of a refined practice of coeval imitation existed in Portugal during the mid-to-late 1500s.

Análise da influência possível das Divinae Institutiones de Lactâncio e das suas teses e dados sobre o evemerismo n'Os Lusíadas de Luís de Camões.

This is a follow-up to a previous essay of mine engaged in a debate that was launched by Vítor Aguiar e Silva in 1992, in the pages of Diacrítica, on the authorship of the sonnet beginning O dia em que eu nasci moura e pereça. My arguments in favour of ascribing this sonnet to Camões are here summarized, and new data is added. The wider issue of authorship of sixteenth-century Portuguese sonnets is also addressed, as I argue for a philological approach that goes beyond textual criticism to assume, as a precondition, the study of ideology in the history of editing Camões and of commenting on his and others’ poetry.

Research into the reception of Portuguese Renaissance poetry among its Spanish successors of the Golden Age has remained confined to Camões for ideological reasons originating in the Portuguese secession of 1640 and its close literary correlative, Manuel de Faria e Sousa's commentaries on the author of Os Lusíadas. The present article intends to show the nedd for an epistemological turn in the field, by calling attention to the relevance of poets lately forgotten on both sides of the border, like Diogo Bernardes and Jerónimo Corte-Real, in the work of Spanish writers as great as Cervantes and Quevedo.

Análise do Sermão da Sexagésima, o principal texto de preceptiva literária do Padre António Vieira, investigando a sua doutrina do discurso.

While Homer, Virgil and Camões, subject to vast, erudite and detalied commentaries, have had thei use of mythology explained and interpreted from early times, a Portuguese poet who was once favourably compared to all of them, Jerónimo Corte-Real, lacked any such exegesis. The lecture on mythology that Venus gives to her son Amor in the poem 'Sepúlveda', completed by his and his brother Anteros's journey to the dwellings of Nemesis, is one of the occurrences which create the most difficulty to historical-philological commentary, because of the differences it establishes with respect to classical tradition. The present paper is intended as a brief introduction to an issue which has not so far been approached by studies on the great Portuguese poetry of the 16th century.

Abordam-se algumas dificuldades hermenêuticas relativas ao emprego de certa mitografia numa passagem do poema de Sepúlveda de Jerónimo Corte-Real. Recorre-se ao conceito de "imitação erística" para explicar boa parte da intencionalidade textual, apoiada em documentação coeva do poeta.