Tese de Doutoramento em Ciências da Educação (Especialidade em Educação Matemática), O estudo realizado incide sobre a comunicação que se estabelece em contexto de sala de aula de Matemática numa turma do 6.º ano de escolaridade do Ensino Básico, constituída, por quatro alunos com deficiência auditiva. Este estudo em Educação Matemática encontra um suporte teórico em duas áreas distintas mas que se interligam em sala de aula: a comunicação em Matemática e a deficiência auditiva. Estas áreas aparecem aqui intimamente relacionadas na perspetiva de que a deficiência auditiva pode obstaculizar a comunicação que se estabelece em contexto de sala de aula de Matemática, uma vez que professor e alunos não são fluentes numa mesma língua, já que a língua materna dos professores é, por norma, o Português, enquanto para os alunos com deficiência auditiva a sua língua materna é a Língua Gestual Portuguesa (LGP). Nesse sentido, formularam-se as questões de investigação: (a) Que interações se estabelecem na aula de Matemática com alunos com deficiência auditiva?; (b) Que desafios linguísticos ocorrem na aula de Matemática com alunos com deficiência auditiva?; e (c) Qual a influência do processo comunicativo na aprendizagem da Matemática em alunos com deficiência auditiva? O estudo enquadra-se numa metodologia qualitativa de cunho interpretativo, seguindo o design de estudo de caso (quatro casos). Os quatro casos considerados, correspondem aos quatro alunos (Ana, Beatriz, Carla e Daniel, nomes fictícios) com deficiência auditiva, que constituem uma turma de uma escola de referência para a educação bilingue, na Região Norte de Portugal. Destaca-se, também, o papel da professora de Matemática e da intérprete de LGP. A presença desta justifica-se pelo facto dos alunos estarem inseridos num currículo bilingue. A recolha de dados foi maioritariamente realizada em sala de aula de Matemática e incluiu diferentes instrumentos, nomeadamente, produções escritas pelos alunos, em contexto de aula de Matemática, no caderno diário, no quadro, em fichas de trabalho ou de avaliação; observação de aulas; gravações áudio/vídeo, posteriormente integralmente transcritas; entrevistas semiestruturadas à professora de Matemática e à intérprete de LGP, registadas em áudio e, posteriormente, integralmente transcritas; conversas informais mantidas com a professora de Matemática, a intérprete de Língua Gestual Portuguesa, a professora de Educação Especial, a diretora de turma e os alunos; e recolha documental. A análise de dados, organizada em estudos de caso, interpreta a plenitude da informação recolhida, através de referências significativas, reconstruindo a complexidade das vivências dos participantes nesta investigação, tendo em vista responder às questões de investigação formuladas. Os resultados iluminam as dificuldades de comunicação sentidas pelos alunos que os impedem de construir conhecimentos matemáticos sólidos, quer sejam na interpretação de enunciados ou nas interações que estabelecem, devido à pouca fluência em Língua Portuguesa (LP) e em LGP. Verificamos que as interações em contexto de aula de Matemática ocorreram, maioritariamente com a professora, em detrimento das interações entre pares, onde apesar de saberem LGP a comunicação matemática que se estabelecia era escassa, ou com a intérprete de LGP, a quem recorriam para acederem à informação. Verificamos, ainda, limitações da LGP como língua para trabalhar matematicamente, nomeadamente na identificação de termos matemáticos para os quais não existe gesto definido, na utilização gestos iguais para designar conhecimentos diferentes, ou no combinar de gestos só aplicáveis a determinado grupo de alunos, causando aprendizagens pouco consistentes. Salienta-se, ainda, a construção frásica em LGP diferente da usualmente aceite em LP, o que causou alguns constrangimentos e dificuldades de interpretação entre os participantes e o desconhecimento de termos utilizados no dia a dia, responsável por dificuldades na interpretação de enunciados escritos. Verificamos o desenvolvimento incorreto dos conceitos de fração e de razão, de numerador, de denominador, de parte e de todo, de medida ou de unidades de medida. As limitações em termos de qualidade das vivências sociais e a pouca fluência quer em LGP quer em LP também causaram alguns constrangimentos. Para que os alunos com DA estejam a aceder a aprendizagens matemáticas de qualidade não basta a existência de um intérprete de LGP, em sala de aula, que lhes permita aceder à informação. É necessário que se pense a implementação do currículo, de acordo com as especificidades dos alunos com DA, num trabalho sistemático e colaborativo entre todos os intervenientes do processo de ensino e aprendizagem., This study focuses on the communication that is established in a Mathematics classroom of the 6th year of Basic Education with four students with hearing impairment. The theoretical framework finds its support in two distinct but interconnected study topics in the classroom: communication in Mathematics and hearing impairment. These topics appear here closely related in the perspective that the hearing loss can hinder the communication that is established in the context of Mathematics classroom, since teacher and students are not fluent in a same language, as the first language of the teachers is, mainly, Portuguese, while for students with hearing impairment their first language is the Portuguese Sign Language (PSL). In this sense, we have formulated the following research questions: (a) Which interactions are established in the Mathematics classroom with students with hearing impairment?; (b) Which linguistic challenges occur in the Mathematics classroom with students with hearing impairment?; and (c) What is the influence of the communicative process of learning mathematics in students with hearing impairment? Given the nature of the study and the adopted conception of knowledge, the research methodology follows a qualitative interpretative paradigm, based in a design of a case study (four cases). The four cases considered correspond to the four students (Ana, Beatriz, Carla and Daniel, fictional names) with hearing impairment who constitute a class of the 6th year of a public school for bilingual education in the Northern Region of Portugal. Equally relevant is the role assumed by the Mathematics teacher and the PSL interpreter, whose presence is justified by the inclusion of those students in a bilingual curriculum. The data collection was mostly carried out in the Mathematics classroom and included different instruments, namely, written productions of the students in the context of Mathematics class, in the daily notebook, in worksheets or evaluation, or in the blackboard; classroom observation; audio / video recordings, later fully transcribed; semi-structured interviews with the teacher of Mathematics and PSL interpreter, recorded in audio and later, fully transcribed; informal conversations held with teacher, PSL interpreter, special education teacher, class leader and students; and documentary collection. The data analysis, organized in case studies, interprets the completeness of the information collected, through significant references, reconstructing the complexity of the participant’s experiences in this research, in order to answer the research questions formulated. The results illuminate the communication difficulties experienced by the students which prevent them from constructing a solid mathematical knowledge, whether in the interpretation of statements or in the interactions that they establish, due to the low fluency in Portuguese Language (LP) and in PSL. We verified that the interactions in the context of Mathematics classes occurred, mainly with the teacher, and less between pairs, where in spite of knowing PSL the mathematical communication that was established was scarce, or with the interpreter of PSL, to whom they resorted to access information. We also found limitations of the PSL as a language to work mathematically, namely in what concerns to the identification of mathematical terms for which there is no defined gesture, the use of equal gestures to designate different knowledge, or the combination of gestures only applicable to a certain group of students, causing inconsistent learning. Also, the fact that the sentences construction is in a different mode of the one usually accepted in PL, which caused some constraints and difficulties of interpretation between the participants, the unawareness of terms used in the day to day, leading to difficulties in the interpretation of written statements. We verify the incorrect development of the concepts of fraction and reason, numerator, denominator, part and all, measure or units of measure. The limitations in terms of social experiences and the lack of fluency in both PSL and PL also create some constrains. In order to have access to a good mathematic learning for students with hearing impairment, it’s not enough to have a PSL interpreter in the classroom, which enables them to access de information. It’s necessary to think about the implementation of the curriculum, accordingly to the specificities of these students, with a systematic and collaborative work between all the actors of the teaching and learning environment.