UID/HIS/04666/2013 UID/HIS/04666/2019 Neste texto, analisa-se a recepção da obra e legado de Mohandas Karamchand Gandhi no Portugal colonial do século XX. Verifica-se que é na imprensa progressista que se dá mais atenção a Gandhi – em particular pela sua faceta de destacado líder da independência indiana face ao jugo colonial inglês, mas também pelos seus princípios pacifistas, humanistas, de tolerância religiosa, fraternidade e igualdade. Recorre-se ao seu exemplo para falar da justeza da sua causa, mas também doutros temas (conexos ou não): emancipação da Índia portuguesa e questão colonial; relação entre civilizações e culturas; ingredientes duma política à escala planetária mais tolerante e dialogante. A recepção de Gandhi em Portugal foi amiúde um estratagema para fintar a censura política, num contexto de afirmação das correntes da autodeterminação dos povos, primeiro, e do anticolonialismo, depois. Grupos de activistas goeses e doutros pensadores progressistas interligaram distintas imprensas: a goesa emancipalista, a libertária, a demo-republicana (v.g., Seara Nova) e parte da católica. Alguns entraram em debate com autores nacionalistas, envolvendo outra imprensa na liça. Foi frequente que séries de artigos (e/ou conferências) originassem opúsculos ou livros, atestando a relevância desses escritos e abrindo o debate a novos auditórios. Além disso, foram publicadas traduções das memórias de Gandhi e de biografias de referência entre o pós-II Guerra Mundial e os anos 1960, o período de contenda acesa em torno da Índia portuguesa entre a nova União Indiana e o vetusto Portugal colonial. A cobertura de Gandhi e seu uso na questão goesa é mais um indicador a atestar a relevância pioneira da Índia portuguesa no que tange a discutir o fim do colonialismo português. This text analyzes the reception of the work and legacy of Mohandas Karamchand Gandhi in the colonial Portugal of the twentieth century. It turns out that it is in the progressive press that Gandhi is given more attention – particularly by his facet of leading Indian independence over the British colonial yoke, but also by his pacifist, humanistic principles of religious tolerance, fraternity and equality. His example is used to speak of the correctness of his cause, but also of other themes (connected or not): emancipation of the Portuguese India and the colonial issue; relationship between civilizations and cultures; the ingredients of a planetary policy that is more tolerant and dialogical. Gandhi’s reception in Portugal was often a ploy to escape political censorship, in a context of affirmation of the chains of self-determination of peoples, first, and of anti-colonialism, later. Groups of Goan activists and other progressive thinkers crosslinked different presses: the Goan emancipalist, the libertarian, the demo-republican (eg, Seara Nova) and part of the Catholic. Some came to debate with nationalist authors, involving another press in the public arena. It was not uncommon for series of articles (and/ or conferences) to originate booklets or books, attesting the relevance of these writings and opening the debate to new audiences. In addition, translations of Gandhi’s memoirs and reference biographies between post-World War II and the 1960s were published, the period of fierce strife surrounding Portuguese India between the new Indian Union and ancient colonial Portugal. Gandhi’s coverage and its use in the Goa issue is yet another indicator to attest to the pioneering relevance of Portuguese India in discussing the end of Portuguese colonialism. publishersversion published