CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Entre 1843 e 1844, não muito após seu primeiro grande acerto de contas com o pensamento de Hegel, Karl Marx, munido da conquista teórica de que, na relação entre Estado e sociedade civil-burguesa, esta é sujeito do qual o primeiro é predicado, avança em suas reflexões em textos que seriam publicados somente no ano seguinte. Se, até então, sua crítica o havia levado à defesa da democracia, concebida em termos de uma sociedade imediatamente política, tal perspectiva é em seguida abandonada. Contudo, o autor não alcança de imediato a constatação de que, como afirmaria na década seguinte, a anatomia da sociedade civil-burguesa está na economia política. Não obstante, em três textos deste período, dá início a uma crítica que não só atingiria o Estado político, agora concebido como a forma plena do poder político, mas, também, a sociedade civil-burguesa. Tomados como dois lados da mesma moeda, Estado e sociedade civil-burguesa tornam-se objeto de análise, e, mesmo em suas conformações modernas, como esferas que devem ser suprimidas. Ainda que, em seus escritos da época, Marx tenha que partir da realidade alemã e de seu anacronismo, o autor sempre remete para sociedades mais avançadas, e se conforma como crítico da sociedade moderna e do Estado moderno. Ademais, se, por um lado, os textos analisados no presente trabalho já foram objeto dos mais distintos estudos, dos mais distintos autores, por outro, há ainda lacunas que se devem suprir e problemas que se devem corrigir. Há autores que, ao atribuir ao Marx de 1843-1844 o rótulo de “jovem Marx”, recaem em equívocos interpretativos da obra do período. Ainda, para além da crítica de Marx ao Estado e ao poder político em geral, pouco se explorou o outro polo da relação, cujas determinações o autor já adentra: a sociedade civil-burguesa. Ainda que tivesse muito a desenvolver no campo econômico, o pensador dá início, já nesse momento, à busca pelas categorias que regem a sociedade civil-burguesa. Esta é descrita como âmbito de domínio do dinheiro, da grande indústria, da propriedade privada, do comércio, e das classes sociais. Marx, pois, trata de vários de seus traços. Sua defesa da revolução social é inseparável não só da supressão do Estado, mas, ao mesmo tempo, da supressão de sua base, a sociedade civil-burguesa. Between 1843 and 1844, not long after his first great reckoning with Hegel’s thought, Karl Marx, armed with the theoretical conquest that, in the relation between the State and civil-bourgeois society, the latter is the subject of which the former is the predicate, moves forward in his reflections in texts which would only be published the following year. If, until then, his critique had taken him to the defense of democracy, conceived in terms of a society that is immediately political, such perspective is very soon abandoned. However, the author does not come immediately to the conclusion that, as he would write the following decade, the anatomy of civil-bourgeois society is in political economy. Despite this, three texts written in this period mark the beginning of a critique that would reach not only the polítical State, now conceived as the full form of political power, but also civil-bourgeois society. Treated as two sides of the same coin, State and civil-bourgeois society become the object of analysis, and, even in their modern forms, as spheres that must be supressed. Even if, in his writings of the time, Marx had to take german reality and its anachronism as the starting point, the author always refers to more advanced societies, and becomes a critic of modern society and of the modern State. Moreover, if, on one hand, the texts analysed in the present study have already been object of different studies, by different authors, on the other hand, there are still gaps to fill and mistakes to correct. There are authors which, because they attribute to the Marx of 1843-1844 the label of “young Marx”, make interpretative mistakes of his work of the time. Still, beyond Marx critique of the State and of political power in general, the other side of the relation has been little explored: civil-bourgeois society. Even if he had still much to develop in the economic field, the thinker begins, already at this time, the search for the categories that rule civil-bourgeois society. The latter is described as a sphere ruled by money, by the great industry, by private property, by commerce, and by social classes. Therefore, Marx treats many of its aspects. His defense of social revolution is inseparable not only from the supression of the State, but, at the same time, from the supression of its basis, civil-bourgeois society.