MONTEIRO, Luís Filipe Barata. A mensagem filosófica da mensagem. Rev. de Letras, Fortaleza, v. 4/5, n. 2/1, p. 19-30, jul./dez. 1981, jan./jun. 1982. Afirmar-se que Fernando Pessoa é um grande poeta ou uma estrela de primeira grandeza, no firmamento da poesia portuguesa, não é novidade para ninguém. Rigorosamente, a frase anterior é discutível, porque se apresentava vagamente definida quanto à primeira parte e voluntariamente indefinida, quanto à segunda. Mas isto é Fernando Pessoa que, ao definir e caracterizar o poeta, se define e caracteriza a si próprio, escrevendo: "O poeta é um fingidor, Finge tão completamente, Que finge, até, que é dor, A dor que, deveras, sente." Por outro lado, sabe-se que a estrela é um presente aparente, expresso por um ponto luminoso e cintilante. A realidade; porém, é outra. O que vemos, de fato, é um passado-presente, no reflexo efêmero dessa luz que nos transporta para um presente-futuro, buscando aí a fonte dessa mesma luz que, talvez já pertença ao passado. Quem sabe se, ao chegarmos lá. a estrela já não está, porque seguiu o seu destino? É assim que entendo Fernando Pessoa. E a MENSAGEM? Entendo que este seu livro, tal como qualquer outro do mesmo autor, deve ser analisado através de Fernando Pessoa e não independentemente dele. Tal postura me coloca em face duma polêmica tradicional, expressa pelo binômio autor-obra. A minha posição nesta matéria é a de que, em Fernando Pessoa, não pode nem deve existir separação entre o autor e a sua obra. Daí o uso de certos dados biográficos e psicológicos, capazes de mostrar quem é Fernando Pessoa e qual é a sua mensagem filosófica.