Introdução: Os fenómenos tromboembólicos venosos são entidades patológicas prevalentes e que continuam a associar-se a morbimortalidade elevada, apesar de existirem métodos preventivos eficazes e formalmente indicados. Múltiplos factores de risco associados ao tromboembolismo venoso têm sido descritos e a sua detecção segundo um modelo de avaliação de risco permite quantificar o risco individual de cada doente. Doentes internados em serviços de Medicina Intensiva são considerados como uma população particularmente susceptível a estes fenómenos. Objectivos: Avaliar a prevalência de factores de risco para tromboembolismo venoso, o risco tromboembólico individual, mediante aplicação de um modelo de avaliação de risco, e as práticas tromboprofiláticas, num serviço de Medicina Intensiva. Métodos: Realizou-se um estudo observacional retrospectivo da população de 39 doentes internados no serviço de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, pólo do Hospital Universitário, no período temporal de um mês. Aplicou-se o modelo de avaliação de risco de Caprini. Foi utilizado o software estatístico SPSS v20Ò para Windows. Resultados: Dos 39 doentes, 56,4% eram do sexo masculino e 43,6% do sexo feminino, com uma idade média de 61,38 anos [IC 95%(56,22;66,55)]. Determinou-se uma média de 9,18 factores de risco por doente [IC 95%(8,53;9,83)] e um score de risco tromboembólico médio de 13,97 pontos [IC 95%(12,70;15,24)]. O número de factores de risco por doente foi superior nos doentes médicos, face aos doentes cirúrgicos (p = 0,002) e traumáticos (p = 0,043). O score de risco foi superior nos doentes do sexo masculino, face aos doentes do sexo feminino (p= 0,041) e nos doentes médicos, face aos doentes cirúrgico (p < 0,001) e traumáticos (p = 0,011). Os factores de risco mais prevalentes foram a doença pulmonar grave, a previsão de que o doente ficaria confinado ao leito por mais de 72 horas e a presença de catéter venoso central, presentes em 100% dos doentes. A tromboprofilaxia farmacológica foi utilizada em 94,6% dos doentes, com escolha de enoxaparina em 89,2% dos casos. Não se verificou qualquer fenómeno tromboembólico. Discussão: Os doentes internados no serviço de Medicina Intensiva acumulam múltiplos factores de risco tromboembólico, com consequente score de risco muito elevado, posicionando-se acima do grupo do cut-off máximo determinado pelo modelo de Caprini, que assim se revelou inadequado a esta população. Os factores de risco mais prevalentes foram factores inerentes ao internamento no serviço de Medicina Intensiva e, isoladamente, conferiram um score de risco de 6 pontos. A tromboprofilaxia foi vastamente aplicada, sendo dominante a utilização de enoxaparina, apresentou concordância de 100% com as guidelines vigentes e foi eficaz na prevenção do tromboembolismo venoso. Conclusão: O internamento no serviço de Medicina Intensiva constitui um factor de risco global que coloca todos os doentes no grupo de risco tromboembólico máximo do modelo de Caprini. Apesar disso, as práticas tromboprofiláticas aplicadas revelaram-se eficazes, bem como seguras. O risco tromboembólico muito elevado desta população de doentes justifica o recurso à combinação de métodos tromboprofiláticos farmacológicos e mecânicos sempre que não existam contra-indicações. Introduction: Venous thromboembolic events are common and remain associated with high morbidity and mortality, even though effective thromboprophylatic methods exist and are formally indicated. Multiple risk factors associated with venous thromboembolism have been described and its detection with a risk assessment model allows for the quantification of each patient’s individual risk. Intensive Care patients are considered especially prone to such events. Objectives: To evaluate the prevalence of venous thromboembolism risk factors, the individual thromboembolic risk, through the use of a risk assessment model, and the thromboprophylaxis practices in the Intensive Care Unit. Methods: A retrospective cohort study was conducted on 39 patients from the population of Intensive Care patients of the Coimbra University Hospital, using a one month span. Caprini’s risk assessment model was used. Statistical procedures were performed using SPSS v20® for Windows. Results: Out of the 39 patients, 56,4% were male and 43,6% were female with mean age of 61,38 years [CI 95%(56,22;66,55)]. An average of 9,18 risk factors per patient [CI 95%(8,53;9,83)] and an average risk score of 13,97 points [CI 95%(12,70;15,24)] were obtained. The number of risk factors per patient was higher in the medical patients when compared to the surgical (p = 0,002) and trauma (p = 0,043) ones. The thromboembolic risk score was higher in the male patients when compared to females (p= 0,041) and in the medical patients when compared to the surgical (p < 0,001) and trauma (p = 0,011) ones. The commonest risk factor were “serious lung disease”, “patient prevesebly confined to bed for more than 72 hours” and “central venous catheter”, all with a prevalence of 100%. Pharmacological thromboprophylaxis was used in 94.6% of the patients, with enoxaparin being preferred in 89.2% of the cases. Venous thromboembolic events were not reported. Discussion: Intensive care patients gather multiple thromboembolic risk factors, leading to very high risk scores which label them above the maximum risk group defined by Caprini’s model. Thus, this model was reveilled as inadequate for these patients. Thromboprophilaxis was widely used and it was effective in the prevention of venous thromboembolic events. Enoxaparin was the most frequent choice. Guideline concordance for pharmacological thromboprophylaxis was 100%. Conclusion: Admission to the Intensive Care Unit is a global risk factor which places all the patients at the highest risk group defined by Caprini’s model. Despite that, the applied thromboprophylaxis was considered both effective and safe. These patients' very high thromboembolic risk justifies the combined use of pharmacological and mechanical prophylatic methods in the absence of contraindications.