Introdução: O Linfoma de Hodgkin é o câncer mais prevalente em jovens em idade fértil. Nas últimas décadas, a introdução de novos quimioterápicos e regimes combinados permitiu o aumento da sobrevida e da taxa de cura dessa doença. Por outro lado, aumentou também a preocupação com os efeitos colaterais e a qualidade de vida pós-cura. O dano ovariano é uma das principais consequências da quimioterapia e tem apresentação clínica variável, como por exemplo, amenorreia transitória a permanente, infertilidade ou até menopausa precoce. Como o efeito citotóxico é maior em células em divisão, espera-se que manter as células ovarianas da granulosa e as da teca em repouso através do uso de agonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) possa diminuir esses efeitos deletérios. Diversos estudos pré-clínicos em animais e de fase II já observaram o benefício dessa intervenção. Porém, os estudos de fase III apresentaram resultados conflitantes assim como as metanálises que tentaram sintetizá-los. Objetivo: Avaliar a eficácia do agonista de GnRH antes e durante a quimioterapia em mulheres na pré menopausa com linfoma para a proteção da reserva ovariana. Métodos: A busca eletrônica foi realizada até agosto de 2014 nas bases de dados CENTRAL, LILACS, MEDLINE e ClinicalTrials.gov. Apenas ensaios clínicos randomizados comparando o uso concomitante do agonista de GnRH à quimioterapia com a quimioterapia isolada foram considerados elegíveis. Dois revisores avaliaram, independentemente, os critérios de inclusão, os riscos de viés e extraíram os dados dos estudos incluídos e as discordâncias foram resolvidas posteriormente entre si. Resultados: A busca identificou 171 artigos e apenas 3 foram incluídos. Todos eles avaliaram a taxa de falência ovariana prematura (FOP) e a taxa de gravidez pós tratamento. Somente 2 estudos fizeram dosagens do hormônio antimulleriano (AMH), como um marcador de reserva ovariana. Não houve diferença estatística na taxa de FOP entre os grupos controle e intervenção (RR 0,83, IC 95%, 0,24 - 2,88), assim como na taxa de gravidez no follow-up (RR 0,77, IC 95%, 0,19- 3,15). A análise com intention-to-treat (ITT) encontrou resultados semelhantes, com exceção de uma discreta diminuição na taxa de gravidez no grupo intervenção ao incluir o número de pacientes inicialmente alocados nos denominadores e somando a perda do controle no numerador do mesmo grupo. Tal resultado, porém, não tem relevância clínica, uma vez que a estratégia usada para cálculo com ITT visa não superestimar resultados positivos, sendo difícil mensurar sua interferência no resultado negativo. Também não houve diferença estatística na dosagem de AMH no follow-up entre os grupos controle e intervenção (RR 0,54, IC 95%, -0,31 - 1,38). A análise de sensibilidade reproduziu os mesmos resultados, confirmando que nenhum estudo teve um peso isolado no resultado geral obtido. Conclusão: As nossas evidências sugerem que o uso do agonista do GnRH durante a quimioterapia em pacientes com linfoma não diminui a incidência de falência ovariana prematura. Tampouco, aumenta as chances de gravidez espontânea futura ou mantém os níveis de AMH adequados. Portanto, não deve ser utilizado nesses casos nem deve substituir técnicas já comprovadas de preservação da fertilidade como a vitrificação de gametas e embriões. Contudo, a interpretação dos resultados deve ser realizada com cautela, já que os estudos randomizados disponíveis são pequenos, heterogêneos e apresentam follow-up curto. Estudos futuros de boa qualidade, controlados, randomizados, com melhor avaliação da reserva ovariana pré e pós-tratamento, maior período de follow-up, correção para idade ou fatores confusionais e com amostras mais robustas são necessários para melhorar a força do resultado atual. Introduction: Hodgkin lymphoma is the most prevalent cancer in young people of childbearing age. In recent decades, the introduction of new chemotherapeutic agents and combination regimens brought about increased survival and cure rates for this disease. On the other hand, concerns about post cure side effects and life quality have been discussed. Ovarian damage is one of the main consequences of chemotherapy and has variable clinical presentation, ranging from transient to permanent amenorrhea, infertility or early menopause. As the cytotoxic effect is greater in dividing cells such as the ovarian granulosa and theca cells, it is believed that keeping them at rest may reduce their susceptibility to these deleterious effects. The GnRH agonist, through inhibition of the hypothalamic-pituitary-ovarian axis, keeps the gonads inactivated. Several preclinical animal studies and phase II studies have observed the benefit of this intervention. However, phase III studies showed conflicting results as well as meta-analyzes that attempted to synthesize them. Objective: To evaluate the effectiveness of GnRH agonist before and during chemotherapy in premenopausal women with lymphoma for the protection of ovarian reserve. Methods: Electronic search was conducted until August 2014 in CENTRAL databases, LILACS, MEDLINE and ClinicalTrials.gov. Only randomized clinical trials comparing concurrent use of GnRH analogue plus chemotherapy with chemotherapy alone were eligible. Two reviewers analyzed, independently, the inclusion criteria, bias risk and extracted data from included studies. Any disagreements were addressed and resolved between both reviewers. Results: The search identified 171 articles and only 3 of these were included. They evaluated the rate of premature ovarian failure (POF) and pregnancy rate after treatment. Only two studies described have Anti-Müllerian hormone (AMH) dosages as a marker of ovarian reserve. There was no statistical difference in FOP rate between the control and intervention groups (RR 0.83, 95% CI 0.24 to 2.88), as well as pregnancy rate at follow-up (RR 0.77, CI 95% 0,19- 3,15). The analysis with intention-to-treat (ITT) found similar results, except for a slight decrease in pregnancy rate in the intervention group when including the number of patients originally allocated in the denominators and added the loss of control in the numerator of the same group. This outcome, however, has no clinical relevance, since the strategy used to calculate ITT intends to avoid overestimating positive results and it is difficult to measure its interference in the negative one. There was no statistical difference in AMH measurement in follow-up between the control and intervention groups (RR 0.54, 95% CI -0.31 - 1.38). The sensitivity analysis reproduced the same results, confirming that all included studies bore the same weight statistically. Conclusion: Our evidence suggests that the use of GnRH agonist during chemotherapy in patients with lymphoma does not reduce the incidence of premature ovarian failure. Neither does it increase the chances of future spontaneous pregnancy or maintain adequate AMH levels. Therefore, it should not be used in these cases and should not replace proven techniques of fertility preservation such as gamete and embryo vitrification. However, the interpretation of results must be carried out with caution, since the randomized studies that are available have mostly been done with small samples of patients, are heterogeneous and have short follow-ups. Further good quality studies, controlled, randomized, with better parameters of ovarian reserve before and after treatment, longer follow-ups, correction for age and confusing factors and more robust samples are needed to improve the reliability of the current results.