Este trabalho é uma pesquisa artística que consiste na conjugação entre uma reflexão poético-filosófica acerca da interpretação de cenas de loucura em ópera e a performance do espetáculo Histeria: uma loucura operística. Enquanto método, procura-se fazer da poética e da interpretação um caminho para a performance e, portanto, para o saber artístico. Para isso, é preciso compreender o intérprete enquanto co-criador, pois enquanto nele a obra se apresenta, qualquer resultado possível de sua interpretação será sempre na medida de seus sentidos e de sua compreensão, de seu sentir-pensar, de seu corpo e de sua alma. O sentir e o pensar do homem são sempre intransferíveis e autênticos. A autenticidade, isto é, a originalidade de se permitir sentir e pensar, e portanto, ser, é também loucura. Enquanto é distanciamento de um padrão e um instaurar autêntico do ser humano, a loucura é convite para o caminho interpretativo, para o poetizar-se; é caminho para vida. O cantor, no papel de intérprete, é também instaurador de mundo. Enquanto empresta sua voz às musas, ele cria, mede-se com o divino. Instaurar-se a si mesmo, vir-a-ser, autenticamente, é não só um ato de divinização do próprio ser humano, mas também um ato de loucura. A loucura é sempre transgressão do padrão para um modo de ser originário e autêntico. As mulheres, por sua vez, são a figura culminante da transgressão e da loucura: elas são as histéricas e desobedientes, ao mesmo tempo que são as mães amorosas e geradoras da vida no corpo. O corpo feminino é poético. Nele ressoa a voz poética, criadora. É da relação entre a loucura, o feminino, a voz poética e a performance que nasce o espetáculo Histeria. Este espetáculo operístico solo, dividido em dois atos, conta a trajetória feminina da loucura e do vir-a-ser poético da personagem Lúcia. Numa composição de enredo e performance cênico-vocal completamente original, o espetáculo reúne textos próprios, de outros autores e árias de cenas de loucura em ópera de diversos compositores: a cena de loucura de Ofélia (da Ópera Hamlet, de Ambroise Thomas), À vos jeux, mes amis... Partagez-vous mes fleurs!… Pâle et blonde; a grande cena de Lucia (da Ópera Lucia di Lammermoor, de Gaetano Donizetti), Il dolce suono... Spargi d’amaro pianto; a ária Ah! non credea mirarti (La Sonnambula, de Vincenzo Bellini); O rendetemi la speme... Vien, diletto…, de Elvira (I Puritani, também de Bellini); Ombre légère (Dinorah ou Le Pardon de Ploërmel, de Giacomo Meyerbeer); e Glitter and be gay (Candide, de Leonard Bernstein). Histeria é o florescimento da potência criativa feminina, por meio da voz e do corpo. This work is a practice-based research which consists in bonding a poetic-philosophical reflection about the interpretation of mad scenes in opera and the performance of the spectacle Hysteria: an operistic madness. As a method, this work intends to make poetics and interpretation as a path to performance and, therefore, as a path to artistic knowledge. Thereunto, is necessary to comprehend the interpreter as a co-creator, for while the interpreter brings the artwork to the present moment, any possible results of the interpretation are always measured by one’s senses and comprehension, by one’s manner to feel-think, by one’s body and soul. The human being’s way to feel and think is always non-transferable and authentic. The authenticity, that is, the originality of permitting to feel and think, and therefore, to be, is madness. Apart from a common-sense behavior while install authenticity of human being, madness is a call to immerse in a interpretive path, the poetical making of oneself: it is a path to life. The singer, as interpreter, installs a world. While one lends one’s voice to the muses, the singer creates, measuring oneself by the divine. Installing oneself, becoming authentically isn’t just a divine act of the human being, but also a madness act. Madness is always transgression of a pattern to a original and authentic way of being. By the way, women are the culminating figure of transgression and madness: they are the hysterical and disobedient ones, at the same time they are the loving mothers and life generators in body dimension. The feminine body is poetic. In it resounds the poetic voice, the creating voice. It is from the relation between madness, feminine, poetic voice and performance that the spectacle Histeria is born. This operistic solo spectacle, divided in two acts, tells a story of a feminine trajectory in madness and of a poetic birth of the character Lúcia. In a completely original composition of plot and vocal-scenic performance, the spectacle groups own texts??, other author’s texts and operas’ mad scenes arias from several composers: Ophelia’s mad scene (from Ambroise Thomas’ Hamlet), À vos jeux, mes amis... Partagez-vous mes fleurs!… Pâle et blonde; the great Lucia’s aria (from Gaetano Donizetti’s Lucia di Lammermoor), Il dolce suono... Spargi d’amaro pianto; the aria Ah! non credea mirarti (Vincenzo Bellini’s La Sonnambula); O rendetemi la speme... Vien, diletto…, from Elvira (I Puritani, also Bellini’s); Ombre légère (from Giacomo Meyerbeer’ Dinorah or Le Pardon de Ploërmel); and Glitter and be gay (Leonard Bernstein’s Candide). Hysteria is the feminine creative power flowering through voice and body. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES