Submitted by Boris Flegr (boris@uerj.br) on 2021-01-05T14:51:19Z No. of bitstreams: 1 Paulo Victor de Souza Rocha_Tese.pdf: 1305434 bytes, checksum: d4e50f8be9c85644d106dc4d2993c9c7 (MD5) Made available in DSpace on 2021-01-05T14:51:19Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Paulo Victor de Souza Rocha_Tese.pdf: 1305434 bytes, checksum: d4e50f8be9c85644d106dc4d2993c9c7 (MD5) Previous issue date: 2014-03-31 On José Saramago s critical religious trilogy, formed by the novels Memorial of the Convent, The Gospel According to Jesus Christ and Cain, the constant presence of an utopic way of thinking is perceptible. Thus it does not reveal itself primarily as an idealistic perception of an immutable reality. It is only when aiming at Ernst Bloch s philosophical mindset that it appears as an acute awareness on both historical process and libertary practice. Through the dynamic constitution of this conscience, it is possible to outline the interactive encounter of times: a contemporary and rebuilt past, a present time full of ideological activism and most important of all, the conscience of an open, concrete and possible future. On those novels, this possibility enables a human craving for radical changes on the effective order feasible. This encounter of times, from an esthetic literary point of view, takes shape essentially through parody: the constant criticizing of icons and themes coming from the Judeo-Christian universe. Either on the heated images presented, on the mocked conceptual framework, or even on the hybrid constitution of the novel, which destroys the totalitarian tenor of a traditional narrative, José Saramago seems to draw out of religious archetypes a seditious intensity where, on the fictional weaving elaborated, he teases and questions the metaphysical construction supported by centuries of Jewish and Christian models. On a contemporary context of the novels, this revisited past reading process points out not only the impossibility of an all-absorving worldview existing on the occidental religion model but also to a modern world existential rebuilding process, considering that, through frustrated dreams from that past, an enabling of utopic desires trapped into collective memory would be possible. Therefore, the utopic thinking, on Saramago s trilogy, turns into mist: on the multiple and complex field of novel, a past- present- future dialectic is revealed, which through its dynamic constitution manages and keeps the novum, the not yet Na trilogia crítico-religiosa de José Saramago, constituída pelos romances Memorial do Convento, O Evangelho Segundo Jesus Cristo e Caim, torna-se possível perceber a presença recorrente do pensamento utópico, que, nas três obras em questão, não se revela como percepção idealística de uma realidade imutável, mas, tendo em vista a perspectiva filosófica de Ernst Bloch, revela-se como consciência aguda tanto do processo histórico quanto da práxis libertária. Na dinâmica constitutiva dessa consciência, pode-se delinear o encontro interativo dos tempos: um passado reconstituído criticamente pela ótica contemporânea, um presente permeado por intensa militância ideológica e, principalmente, a consciência de um futuro aberto como possibilidade concreta, o que viabiliza, naqueles romances, aspirações humanas por transformações radicais da ordem vigente. Esse encontro dos tempos, do ponto de vista estético-literário, substancializa-se na trilogia por intermédio essencialmente do recurso paródico: a revisitação crítica dos ícones e temas provenientes do universo judaico-cristão. Seja nas imagens desiderativas que retoma, seja no quadro conceitual que ironiza, seja, ainda, na constituição híbrida do romance, que esfacela o teor totalizante da narrativa tradicional, José Saramago parece extrair dos arquétipos religiosos uma intensidade subversiva que, na tessitura ficcional que elabora, atinge e questiona a construção metafísica erigida por séculos de judaísmo e cristianismo. Nos três romances do escritor lusitano, esse processo de releitura do passado aponta não somente para a impossibilidade, no contexto contemporâneo, de experiência com a cosmovisão totalizante da religião ocidental como também para a reconstituição existencial do mundo moderno, uma vez que, a partir de sonhos frustrados daquele passado, se tornaria possível materializar anseios utópicos latentes, represados na memória coletiva. Assim, o pensamento utópico, na trilogia saramaguiana, converte-se em névoa do tempo: no espaço múltiplo e complexo do romance, desnuda-se a dialética entre passado, presente e futuro, que, na sua dinamicidade constitutiva, abriga e gesta o novum, o ainda não