Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária O hipoadrenocorticismo (HA) é uma endocrinopatia pouco comum. O HA primário é a forma mais frequente da doença e resulta da diminuição da síntese de glucocorticóides e mineralocorticóides por parte das glândulas adrenais. Nos animais com HA secundário, a diminuição da produção de glucocorticóides é associada ao défice da hormona adrenocorticotrófica (ACTH) ou da hormona libertadora da corticotrofina (CRH). Dado que estas hormonas atuam a diferentes níveis, as manifestações associadas ao seu défice podem ser bastante variadas, o que dificulta o diagnóstico desta doença. Com o objetivo de identificar as características mais frequentes da apresentação clínica do HA em cães, desenvolveu-se um estudo retrospetivo de casos de HA no período pré-tratamento. Foram selecionados cães apresentados a consulta no Hospital Escolar Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (HEV-FMV) em que havia registo dos sinais que levaram à suspeita clínica de HA e cujos resultados do teste de estimulação com ACTH fossem inferiores a 2,0μg/dL nos dois tempos. Aqueles que estavam a receber tratamento com glucocorticóides foram excluídos do estudo. Dos 19 animais selecionados, 53% eram fêmeas e 47% machos, a maioria apresentava entre 2 e 6 anos de idade. Apesar dos dados sugerirem que o aparecimento dos sinais clínicos tende a ser mais precoce nos machos não se identificou uma associação estatisticamente significativa (P=0,094). Os sinais mais reportados foram hiporrexia/anorexia, vómito e letargia/fraqueza e a hipotermia foi a alteração mais detetada no exame físico. Episódios de melena/hematoquézia foram descritos em 4 cães; no entanto, suspeita-se que no total pelo menos 9 animais possam ter apresentado hemorragia gastrointestinal. A ausência de leucograma de stress, presença de azotémia e de rácio sódio:potássio baixo foram as alterações analíticas mais detetadas. Identificou-se uma associação estatisticamente significativa entre o desenvolvimento de hipoglicémia e o género dos animais (P=0,036), sendo este mais frequente nas fêmeas. A contagem de linfócitos revelou-se normal na maioria dos animais, sendo o valor mínimo apresentado de 1335 células/μL o que, de acordo com estudos prévios, são valores com uma elevada sensibilidade na deteção de HA. O diagnóstico de HA demorou mais naqueles animais que não apresentavam alterações eletrolíticas típicas da doença (31%) ou nos quais não foi requerido ionograma. Neste estudo os sinais mais frequentes de HA foram a hiporrexia/anorexia e, acessoriamente, vómito, letargia/fraqueza e hipotermia. As principais alterações analíticas identificadas foram ausência de leucograma de stress, presença de azotémia e rácio sódio:potássio baixo. ABSTRACT - CLINICAL PRESENTATION OF CANINE HYPOADRENOCORTICISM: A RETROSPECTIVE STUDY - Hypoadrenocorticism (HA) is an uncommon endocrinopathy. The primary HA is the most frequent form of the disease, resulting from the decreased synthesis of glucocorticoids and mineralocorticoids from the adrenal gland. In dogs with secondary HA, decreased glucocorticoid production is associated to the deficit of the adrenocorticotropic hormone (ACTH) or corticotrophin-releasing hormone (CRH). These hormones act in many different areas in the organism, so the signs of adrenal hypofunction can be very diversified, which makes the diagnosis of this disease difficult. In order to identify the most frequent characteristics in the clinical presentation of canine HA, a retrospective study was designed. The information analyzed refers to the pretreatment period. Dogs presented to appointment at the Veterinary Teaching Hospital of FMV-ULisboa whose clinical suspicion was HA were selected. Each of these dogs had cortisol values under 2,0μg/dL at both times post ACTH stimulation tests. Those animals in treatment with glucocorticoids were excluded from the study. From the 19 selected animals, 53% were females and 47% males, most of them aged between 2 and 6 years old. Despite descriptive statistics suggested that the males showed clinical signs of HA earlier than females, this association was not statistically significant (P=0,094). Most of them showed hyporrexia/anorexia, vomiting and lethargy/weakness and hypothermia was the most frequent alteration on physical examination. Episodes of melena/hematochezia were only identified in 4 animals; however, it is suspected that at least 9 of the dogs in study had had gastrointestinal hemorrhage. Lack of stress leukogram, presence of azotemia and low sodium:potassium ratio were the most frequent analytic changes. A statistically significant association between the development of hypoglycemia and the gender of the animals (P=0,036) was identified, being more frequent in females. Lymphocyte count was normal for most cases and the minimum count was 1335 cells/ μL, which, according to previous studies, has a high sensitivity in HA detection. The diagnose of HA took longer in those animals that did not have electrolytic alterations characteristics of the disease (31%) or were not subjected to electrolyte quantification. In the present study, the most common clinical signs were hyporrexia/anorexia, vomiting, lethargy/weakness and hypothermia. The main analytical changes identified were absence of stress leucogram, presence of azotemia and low sodium:potassium ratio. N/A