Avaliação de serviços de saúde mental na assistência e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (Aids, Sífilis, Hepatite B e C)

Introdução: Evidências indicam que pacientes com transtornos mentais têm elevada prevalência de infecções sexualmente transmissíveis (IST), quando comparados à população geral, assim como um aumento de comportamentos de risco. Este estudo analisa a prevenção e atenção às IST/aids, na saúde mental no Brasil, com enfoque na avaliação dos serviços de saúde mental, considerando aspectos da estrutura e processo na atenção às IST/aids, inseridos em estudo multicêntrico brasileiro - Projeto PESSOAS (Pesquisa em Soroprevalência de Aids na Saúde Mental). São avaliados o retorno de resultados dos exames sorológicos de HIV, Sífilis, Hepatite B e C, para os participantes. Enfoca ainda o grau de conhecimento sobre HIV/aids, entre os pacientes psiquiátricos, e avalia se fatores individuais ou contextuais (serviços de saúde mental) se relacionam com esse grau de conhecimento. Métodos: Estudo de corte transversal multicêntrico em amostra representativa nacional de 2475 usuários de serviços de saúde mental. Foram selecionados aleatoriamente 11 hospitais psiquiátricos e 15 CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em todas as regiões do país. Um questionário de avaliação de serviços de saúde mental foi aplicado pelo supervisor local da pesquisa, para avaliar descritivamente indicadores selecionados de estrutura e de processo. Os participantes foram submetidos a uma entrevista semi-estruturada, para verificar as características sociodemográficas, de comportamento e situação de risco, relacionadas à atenção à saúde. Na última fase da pesquisa, um questionário sobre a devolução dos resultados de exames de IST/aids foi aplicado nos 2300 participantes, que se submeteram a coleta de sangue. Resultados: De maneira geral, verificou-se um despreparo para a realização de prevenção e cuidado aos pacientes psiquiátricos em risco para as IST/aids. Mais detidamente, observou-se nos serviços de saúde mental uma insuficiência de recursos humanos e equipamentos, indisponibilidade de medicamentos, especialmente em atenção às urgências clínicas, dificuldades para fornecer suporte clínico aos pacientes (IST/aids, inclusive) e precária estrutura dos serviços de referência e contra-referência. Além disso, poucos serviços dispunham de programas de educação sexual ou distribuição de preservativos, apesar do conhecimento de pacientes sabidamente portadores da infecção pelo HIV. Ao se avaliar o retorno de resultados de exames, observa-se que, dentre os 2080 participantes que realizaram a coleta de sangue e tiveram um questionário de devolução de exames respondidos, 1656(80%) receberam os resultados acompanhados de aconselhamento pós-teste. Os CAPS devolveram os resultados para 89% dos participantes, enquanto os hospitais os devolveram apenas para 60%. Os serviços de saúde mental receberam somente 68% das contra-referências solicitadas aos serviços especializados, para aqueles pacientes que apresentaram algum marcador positivo nos exames sorológicos de IST/aids. É importante ressaltar a baixa testagem para anti-HIV alguma vez na vida (27%) entre os pacientes psiquiátricos, sendo que os serviços de saúde mental que relataram distribuir preservativos aos seus pacientes, devolveram mais exames de IST/aids aos participantes. O grau de conhecimento dos participantes sobre HIV/aids alcançou uma média de escore de 6.78 (escala de 1 a 10 acertos). Não foi observada associação significativa entre as variáveis dos serviços de saúde mental e nível de conhecimento. Somente as variáveis dos indivíduos estavam associadas (p