Conception, sterility and health of women in medieval medicine (Montpellier - 13th-14th centuries)

O trabalho investiga como o pensamento médico medieval compreendia e explicava o processo de geração da vida humana contemplando o papel desempenhado por ambos os genitores, e como as mulheres e seus corpos, locus por excelência da reprodução, foram interpretados e cuidados em suas dimensões fisiológica, anatômica e patológica. Para tanto, investigamos um conjunto de tratados de conteúdo ginecológico e obstetrício produzidos por mestres e estudiosos vinculados ao studium de medicina de Montpellier (sécs. XIII-XIV). Trata-se do manual de prática médica Lilium medicinae de Bernardo de Gordonio e de cinco escritos de caráter monográfico focados nos problemas clínicos da concepção e da esterilidade, a saber: Compilacio de concepcione e Interrogaciones in cura sterilitate atribuídos a Arnaldo de Vilanova; e os anônimos Tractatus de sterilitate mulierum, Tractatus de conceptu e Tractatus de sterilitate. A medicina praticada no contexto medieval, em que essas obras se inserem, fundamentou-se em um corpus de textos médico-filosóficos de autores antigos e medievais árabes e latinos. Nessa literatura de origem e natureza heterogênea, o corpo feminino era compreendido e explicado a partir da mesma base teórico-conceitual e esta integrava e justificava sua função/capacidade reprodutiva em uma doutrina médica coerente que amalgamava saber teórico e empírico. Nesta perspectiva, o corpo feminino constituiu-se como um corpo cujas funções e órgãos apresentavam-se interligados e destinados à reprodução. Assim, a saúde corporal e a capacidade reprodutiva das mulheres estavam intrinsecamente conectadas e uma condição dependia da outra, ao mesmo tempo em que a influenciava. A partir dessas premissas, os mestres e estudiosos do baixo medievo latino produziram conhecimentos (teóricos e práticos) e atuaram no âmbito das condições médicas femininas. É sobre esse aspecto da medicina medieval, ou seja, os cuidados médicos dispensados às mulheres e aos seus corpos que nos debruçamos ao longo de nosso trabalho. The work investigates how medieval medical thinking understood and explained the human life generating process, contemplating the role played by both parents, and how women and their bodies, the locus for reproduction by excellence, were interpreted and taken care of in their physiological, anatomical and pathological dimensions. For this, we investigated a set of gynecological and obstetrical treatises produced by masters and scholars linked to Montpellier's medical studia (13th-14th centuries). This set includes the handbook of medical practice Lilium medicinae by Bernardo de Gordonio and five monograph writings focused on the clinical problems of conception and sterility: Compilacio de concepcione and Interrogationses in cura sterilitate attributed to Arnaldo de Vilanova and the anonymous Tractatus de sterilitate mulierum, Tractatus de conceptu and Tractatus de sterilitate. The medicine practiced in the medieval context, in which these works are inserted, was based on a corpus of medico-philosophical texts by ancient and medieval Arab and Latin authors. In this literature of heterogeneous origin and nature, the female body was understood and explained from the same theoretical-conceptual basis and this integrated and justified its reproductive function/capacity in a coherent medical doctrine that amalgamated theoretical and empirical knowledge. In this perspective, the female body was constituted as a body whose functions and organs were interconnected and intended for reproduction. For that, women's body health and reproductive capacity were intrinsically linked, and one condition depended and influenced the other. From these premises, the masters and scholars of the later Latin middle ages produced knowledge (theoretical and practical) and acted in the scope of female medical conditions. It is in this aspect of medieval medicine, that is, the medical care given to women and their bodies, that we tackle throughout our work. Outro