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Correspondências de mulheres do alto sertão da Bahia (1844 - 1950): práticas de leitura e de escrita

Authors :
Zélia Malheiro Marques
Mônica Yumi Jinzenji
Ana Maria de Oliveira Galvão
Isabel Cristina Alves da Silva Frade
Maria Lúcia Porto Silva Nogueira
Marcos Profeta Ribeiro
Source :
Repositório Institucional da UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), instacron:UFMG
Publication Year :
2021
Publisher :
Universidade Federal de Minas Gerais, 2021.

Abstract

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Este trabalho objetiva compreender os modos de participação de mulheres pertencentes à família do Barão de Caetité (José Antônio Gomes Neto; 1822 - 1889) e à família de Deocleciano Pires Teixeira (1844 - 1930) nas culturas do escrito através da análise de suas correspondências, entre meados do século XIX e meados do século XX. Tem como objetivos específicos identificar as práticas de leitura e de escrita das mulheres autoras das cartas, bem como identificar as instâncias educacionais por meio das quais essas mulheres desenvolveram e ampliaram essas práticas. Para o aporte teórico principal, utilizam-se os estudos da História Cultural, da História da Leitura e da História das Culturas do Escrito, tendo Roger Chartier como interlocutor privilegiado por meio dos conceitos de práticas de leitura e de escrita (CHARTIER, 1990; 1991; 1998; 2001; 2007; 2010). O estudo tem como referência a Nova História Cultural, perspectiva para a qual sujeitos, objetos, fontes e problemas são reconfigurados, abrindo possibilidade para que pessoas comuns e anônimas e escritos não oficiais ganhem destaque (BURKE, 1992; DARNTON, 1992). Assim, o estudo pretendeu tirar as mulheres da invisibilidade, mostrando-as ativas no processo de participação nas culturas do escrito. Trata-se de uma pesquisa documental que analisa as correspondências disponíveis no Arquivo Público Municipal de Caetité (APMC), no fundo de correspondências relacionadas à família do Barão de Caetité e à família Spínola Teixeira, como fontes principais. Essas fontes foram organizadas a partir de três gerações de mulheres produtoras de cartas: primeira geração: 1844 - 1888; segunda geração: 1901 - 1944; e terceira geração: 1901 - 1950. Foi possível discutir especificidades de uma geração em relação à outra pelos estudos de Karl Mannheim, indicando não apenas a dimensão cronológica de pertencimento dos sujeitos, mas, sobretudo, as experiências que se compartilhavam na interface entre a objetividade e a subjetividade. A análise identificou a constituição de uma rede de sociabilidade, principalmente familiar, que a cada geração se expandia geograficamente de acordo com os deslocamentos das mulheres por outras regiões da Bahia e por outros estados. As cartas também variavam em suas funções, podendo ser informativas, persuasivas, ou para fruição cultural. As autoras eram leitoras dos principais periódicos impressos em sua localidade de residência e faziam circular jornais, livros e outros materiais, ampliando o acesso dos membros da família a eles. As práticas de escrita eram condicionadas a circunstâncias como a pressa, a iluminação noturna, as viagens, a ausência de materiais, as condições de saúde e a inaptidão para escrever. Além das cartas, as mulheres usavam o telégrafo, cartões postais e cartão-convite, bem como as escritas de cunho formal, burocrático e técnico vinculadas às diversas atuações públicas e processos educativos, como estatutos de associação, docência, documentos cartoriais, aprendizagem e ensino da música e do desenho. Dessa forma, o estudo buscou problematizar os modos como, por meio da leitura e da escrita, as mulheres se constituíram e participaram do desenvolvimento social e cultural muito além do Alto Sertão da Bahia.

Details

Language :
Portuguese
Database :
OpenAIRE
Journal :
Repositório Institucional da UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), instacron:UFMG
Accession number :
edsair.od......3056..b3f76d22a43af25ed194f27093c28454