As implicações da senciência de peixes: qual é o impacto do bem-estar animal na piscicultura e na qualidade da carne?

A senciência e o bem-estar na cadeia produtiva de peixes durante algum tempo foram negligenciados. Atualmente, estudos buscam entender a relação entre o estresse e as alterações provocadas nos peixes. O objetivo desta revisão de literatura foi reunir dados hematológicos, bioquímicos, neurofisiológicos e comportamentais de peixes frente ao estresse nessa cadeia produtiva. Para a busca de conteúdo utilizaram-se sete bases científicas e as seguintes palavras-chave: animal welfare, stunning method, fish, stress, slaughter, humane slaughter, capturing stress, effect of quality e shelf-life. Para a elaboração da revisão foram utilizadas 42 referências. Os dados revelaram que a criação, captura e transporte de peixes de maneira inadequada podem desencadear maiores níveis de cortisol plasmático, alimentação e crescimento prejudicados. Alternativas como renovação de água em tanques de criação ou estratégias alimentares (uso de óleos essenciais, cúrcuma e probióticos) podem reduzir o estresse e seus prejuízos, propiciando bem-estar na aquicultura. O abate é uma etapa crítica na obtenção de peixes, principalmente se realizado por métodos não humanitários. Pesquisas demonstraram que a insensibilização ou o abate por termonarcose (hipotermia) e o abate por corte branquial favorecem comportamentos aversivos, relativa demora em inconsciência, rápida depleção de ATP, prejuízo ao rigor mortis e na qualidade e rendimento da carne (coloração, textura, oxidação lipídica e desnaturação proteica). Eletrocussão, uso de gases, percussão e a combinação entre esses métodos demonstram ser mais humanitários, favorecendo a qualidade da carne. Porém, as operações de insensibilização e abate são variáveis, sendo necessários mais estudos que definam padrões humanitários para espécies na aquicultura.