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AS CELEBRAÇÕES ESTÉTICAS DAS TURMAS DE FANTASIA E A RE- INVENÇÃO DO CARNAVAL DA METRÓPOLE

Authors :
Monique Bezerra da Silva
Jorge Luiz Barbosa
Source :
Ensaios de Geografia, Vol 8, Iss 15 (2021)
Publication Year :
2021
Publisher :
Universidade Federal Fluminense (UFF), 2021.

Abstract

Bate-bola ou Clóvis são brincantes de um festejo típico do carnaval da periferia do Rio de Janeiro. Sua indumentária se caracteriza por alguns elementos peculiares desta manifestação, tais como a máscara, o macacão, o casaco, o bolero, a bola e a sombrinha, além de músicas e performances características que marcam e demarcam territorialidades por eles corporificadas. As fantasias e acessórios podem variar de acordo com o estilo, mas uma constante é o uso da máscara que deixa velada a identidade do brincante. A expansão dos Bate-bolas tem origem na Zona Oeste, mais especificamente em Santa Cruz, se multiplicando pelos bairros dos Subúrbios da Central e da Leopoldina. Atualmente, estima-se quase mil turmas na Região Metropolitana. Suas fantasias são cada vez mais vinculadas com estilos de moda, signos e ícones da cultura urbana contemporânea. As turmas possuem enredos anuais associados a distintos personagens da cultura de massa, desvelando uma produção carnavalesca para exibir sua magia em algumas horas de desfiles nas ruas, avenidas e praças da periferia urbana. Apesar de ser uma prática predominantemente masculina, a ascensão das turmas femininas cresce a cada ano - as “Bate-boletes” correspondem a cerca de 25% das turmas mapeadas atualmente. Uma questão preliminar e fundamental diz respeito à expansão das turmas de fantasia em locais como bairros da nos subúrbios e periferias da Cidade do Rio de Janeiro, assim como na Baixada Fluminense e São Gonçalo, é a forte representatividade da tradição popular da cultura bate-boleira em uma contínua atualização estética. Portanto, é preciso superar a noção ainda corrente do popular (e da cultura popular) como expressão da tradição ou de identidade essencialista de grupos e classes subalternizadas (Hall, 1992), para qualificá-la como uma relação de intersubjetividade que produz um modo de mobilizar e utilizar imagens, objetos e linguagens que circulam na sociedade como um todo, mas que são recebidos e elaborados em processos diversamente criativos (Chartier, 1995). A questão enunciada nos remete a investigação e desvelamento das estratégias e táticas socioespaciais adotadas pelas turmas de fantasia para fazer valer sua presença no Carnaval ao longo de quase um século testemunhando a criatividade da cultura popular. Caminhamos, então, por uma vereda geográfica da cultura, sobretudo ao envolver mobilizações de pertencimento de seus participantes para além do festejo propriamente dito, mas do conjunto de ações no cotidiano dos sujeitos que permitem elaborar e realizar, como o evento carnavalesco, tais como festas, churrascos, bingos, rifas, torneios esportivos. É esse cotidiano de construção que transforma a potência criativa das Turmas de Fantasia em atos de afirmação de sua presença no Carnaval Carioca. Aprendemos com esses brincantes que é preciso mobilizar a produção de símbolos, linguagens e experiências de sujeitos inventivos da cultura, sobretudo quando se considera que as existências sociais são construídas por significações contestadas, inventadas e traduzidas em espacialidades de compartilhamentos sociais e culturais, inclusive como resposta à despossessão da cidade vivida pelos grupos populares no atual processo de produção mercantil do urbano.

Details

Language :
English, Spanish; Castilian, Portuguese
ISSN :
23168544
Volume :
8
Issue :
15
Database :
Directory of Open Access Journals
Journal :
Ensaios de Geografia
Publication Type :
Academic Journal
Accession number :
edsdoj.4effcab6858c41a28b5e37b3dc7bc2e6
Document Type :
article