Sobre Paulicéia Desvairada (1922), de Mário de Andrade, e seu interessantíssimo prefácio

Passados cem anos da publicação de Paulicéia Desvairada (1922), o Prefácio Interessantíssimo que Mário de Andrade escreveu para a obra continua atual e interessantíssimo. Nos poemas que compõem o livro as «palavras em liberdade» captam a simultaneidade do espaço urbano, multicêntrico e pulsante em seu vertiginoso processo de expansão, demarcando os parâmetros de um Brasil novo que se processava nas terras paulistas. O humor e o desvario de traços dadaístas suscitam uma reflexão sobre o próprio fazer da poesia, ridicularizando muitos dos valores formais em que repousava então a nossa literatura. Como herança do expressionismo, a obra demonstra o empenho de um escritor comprometido com os novos rumos da sociedade, que busca inaugurar propostas inéditas para a poesia brasileira, mesmo que para isso tenha que se vestir com um traje de losangos multicoloridos com vistas a aglutinar “a variedade da vida metropolitana no século XX”, conforme observou Telê Porto Ancona Lopez (1979).