Juliana Alvares-Teodoro, Ricardo Mesquita Camelo, Augusto Afonso Guerra Júnior, Bárbara Rodrigues Alvernaz dos Santos, Roberto Lúcio Muniz Júnior, Maiara Silva Araújo, Mariana Michel Barbosa, Luila Clicia Moura Henriques, Melissa Palis Santana, Ana Maria Vanderlei, Íris Maciel Costa, Neuza Cavalcanti de Morais Costa, Tânia Maria Rocha Guimarães, Paula Cella Giacometto, José Sávio Santos Ferreira Filho, Luany Elvira Mesquita Carvalho, Tatyane Oliveira Rebouças, Alexandra Vilela Gonçalves, Clarissa Barros Ferreira, Adriana Celia Luz, Francine Campoy, Sandra Sibele de Figueiredo, Edilma Silva Casaretto, Melina Belintani Swain, Rafael Lucas de Assis Ferreira, Andrea Aparecida Garcia Guimarães, Bárbara Cabrera, and Francisco de Assis Acurcio
Introdução O emicizumabe é um anticorpo biespecífico recomendado para profilaxia contra sangramentos em pessoas com hemofilia A sem (PcHA) ou com inibidores (PcHAi). No Brasil, o emicizumabe foi incorporado pela CONITEC em 2019 para profilaxia de PcHAi que falharam à terapia de imunotolerância. A incorporação, no entanto, envolveu algumas incertezas, tendo em vista que o ensaio pivoral do medicamento não apresentava comparador ativo e o tempo de acompanhamento foi restrito. A avaliação de desempenho de tecnologias em saúde é uma importante ferramenta para a análise pós-incorporações, em especial para avaliar se os resultados de eficácia, provenientens dos estudos pivotais, se traduzem em efetividade, em cenário de mundo real. Objetivo: Avaliar o desempenho do emicizumabe, considerando como desfecho a taxa anualizada de sangramentos tratados (TAS) um ano antes e durante o primeiro ano de profilaxia com emicizumabe, para PcHAi que falharam a imunotolerância, conforme estabelecido pelo Protocolo Clínico do Ministério da Saúde. Métodos O Registro Brasileiro de Emicizumabe (Projeto EmCase) é uma coorte retrospectiva e prospectiva, que acompanha PcHAi desde o início do uso do medicamento, além de avaliar os dados clínicos de 12 meses anteriores ao uso de emicizumabe. Participam do estudo, até o momento, 63 PcHA de 19 Centros de Tratamento de Hemofilia (CTH) de todo o Brasil. Dados clínicos do tratamento anterior (12 meses) e durante (12 meses) a profilaxia com emicizumabe foram coletados. Avaliaram-se as TAS para sangramento total e espontâneo. Também foi avaliada a frequência de PcHAi com sangramento zero. Resultados No momento da escrita deste resumo, 32 PcHAi registradas em 11 CTH tinham pelo menos 1 ano de profilaxia com emicizumabe. Desse total, 22/32 (69%) tinham hemofilia A grave. Antes de iniciar o emicizumabe, 27/32 (85%) PcHAi estavam em profilaxia, 5/32 (15%) recebiam exclusivamente tratamento episódico e todos recebiam agentes de bypass. A idade mediana no início do emicizumabe foi 10 anos (intervalo 1-71). O ataque de emicizumabe prescrito foi 3 mg/kg/semana ao longo de 4 semanas. O esquema de manutenção mais prescrito foi 1,5 mg/kg/semana (18/32; 56%). A duração mediana da profilaxia com emicizumabe foi 651 dias (intervalo 627- 686). Entre as PcHAi tratadas com profilaxia com agente de bypass antes de iniciar emicizumabe (n = 27), as medianas (intervalos interquartis; intervalo) da TAS-total reduziram de 3 (0,3-4; 0-16) para 0 (0-0; 0-2) e da TAS- espontânea reduziram de 0 (0-1; 0-10) para 0 (0-0; 0-1), entre o período pré-emicizumabe e o primeiro ano de uso de emicizumabe, respectivamente. O número de PcHA com zero sangramento aumentou de 7/26 (27%) para 21/26 (81%), respectivamente. Entre as PcHAi tratadas exclusivamente sob demanda e antes de iniciar emicizumabe (n = 5), as medianas (intervalos interquartis; intervalo) da TAS-total reduziram de 2 (1-12; 0-12) para 0 (0- 0; 0-1) e da TAS-espontânea reduziram de 1 (0-0; 0-12) para 0 (0-0; 0-0), entre o período pré-emicizumabe e no primeiro ano de uso de emicizumabe, respectivamente. O número de PcHA com zero após uso profilático de emicizumabe foi de 4/5 (80%). Nenhuma das PcHAi que utilizaram by pass sob demanda não apresentaram número de sangramentos zero. Não foram relatados eventos adversos ao emicizumabe no primeiro ano de acompanhamento. Discussão e conclusões TAS-total e TAS-espontânea foram reduzidas e o número de PcHAi com sangramentos zero aumentou durante a profilaxia com emicizumabe, em comparação com a profilaxia anterior, entre PcHAi. A avaliação de desempenho do emicizumabe tem mostrado bons resultados entre PcHAi. Houve, em 2023, a ampliação do grupo elegível para uso do medicamento e, com isso, faz-se neessária a continuidade do estudo, para a avaliação do uso em cenário de mundo real.