OBJETIVOS: Determinar a frequência de remissão total e parcial no tratamento da nefrite lúpica aos 12 e 24 meses de seguimento. Comparar esses subgrupos aos 12 meses, correlacionando as variáveis renais iniciais com a resposta ao tratamento. Analisar e comparar os resultados terapêuticos do subgrupo com glomerulonefrite proliferativa difusa por correlação clínico-patológica ("classe IV clínica") com aqueles de "classe IV histológica", isto é, com biópsia renal comprovada pela Organização Mundial da Saúde. MATERIAL E MÉTODOS: Foram estudados 100 pacientes consecutivos com diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico (LES) e nefrite, atendidos no Serviço de Reumatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e acompanhados por dois anos. Os portadores de comorbidades que comprometem os rins foram excluídos. Foram analisadas as variáveis demográficas, clínicas, laboratoriais e o índice de atividade da doença (SLEDAI). Os pacientes com classe histológica III, IV ou V receberam corticosteroide e ciclofosfamida como tratamento de indução da nefrite lúpica e aqueles com classe II receberam apenas corticosteroide. RESULTADOS: A idade média ao diagnóstico de LES foi de 24,71 ± 10,14 anos, com predomínio do sexo feminino (88%). O SLEDAI calculado ao diagnóstico foi de 16,09 ± 6,48. Em relação às variáveis renais iniciais, a creatinina média foi de 1,02 ± 0,49 mg/dL, a proteinúria de 24 horas média foi de 2,57 ± 2,39 g e o anticorpo anti-dsDNA foi encontrado em 66% dos casos. Todos os pacientes receberam corticosteroide e 75% utilizaram a ciclofosfamida. Cinquenta e seis pacientes foram submetidos à biópsia renal. Os subtipos II e IV foram os mais prevalentes (33,9% e 32,2%, respectivamente). Após 12 meses de acompanhamento, todos os pacientes apresentaram redução significativa da proteinúria de 24 horas, melhora do sedimento urinário e dos valores das frações do complemento (C3, C4, CH50). A frequência de remissão total aos 12 meses foi 72,7% e, aos 24 meses, 85,7% (p = 0,013). A remissão parcial ocorreu em 27,3% dos doentes aos 12 meses e em 14,3% aos 24 meses. O sexo masculino apresentou menor frequência de remissão total comparado ao feminino aos 12 meses de acompanhamento (45,5% versus 81,6%, p = 0,007). Dentre as diferentes variáveis estudadas, nenhuma se correlacionou com remissão total ou parcial aos 12 meses. O subgrupo "classe IV clínica" apresentou maior frequência de remissão total que o subgrupo "classe IV histológica". CONCLUSÃO: Com o esquema terapêutico usado em nosso serviço, verificou-se um excelente desfecho em dois anos. Não foram observadas correlações entre variáveis clínico-laboratoriais e remissão total ou parcial. O sexo masculino apresentou menores taxas de remissão total comparado ao feminino. Apesar do pequeno número de pacientes estudados e das controvérsias quanto à biópsia renal, a taxa de remissão total foi maior nos pacientes com "classe IV clínica" em relação àqueles com "classe IV histológica".OBJECTIVES: To assess the frequency of total and partial remission in the treatment of lupus nephritis at 12 months and 24 months. To compare these subgroups at 12 months and correlate the initial renal variables with the therapeutic response. To analyze and to compare the therapeutic results of the subgroup with diffuse proliferative glomerulonephritis by clinicopathological correlation ("clinical class IV") with those with biopsy-proven WHO class IV ("histological class IV"). PATIENTS AND METHODS: One hundred consecutive patients with diagnosis of systemic lupus erythematosus (SLE) and nephritis who attended to the department of rheumatology of a tertiary referral center were studied. The length of the follow up was 2 years. Patients with comorbidities that compromise the kidneys had been excluded. The demographic, clinical and laboratory variables and the disease activity index (SLEDAI) were analyzed. Patients with lupus nephritis WHO class III, IV or V received glucocorticoid and cyclophosphamide for induction of remission and those with class II received only glucocorticoid. RESULTS: The average age at SLE diagnosis was of 24.71 + 10.14 years, with a predominance of female gender (88%). The initial SLEDAI was 16.09 ± 6.48. At the time of the diagnosis of nephritis, mean serum creatinine was 1.02 ± 0.49 mg/dL, mean 24-hour urinary protein level was of 2.57 ± 2.39g and the antibody anti-dsDNA was found in 66% of the cases. All the patients had received glucocorticoids and 75% had used cyclophosphamide. Fifty-six patients had been submitted to renal biopsy. The most prevalent subtypes were class II and IV (33.9% and 32.2%, respectively). After 12 months, all the patients had significant reduction in the 24-hour urinary protein level, improvement in the urinary sediment and increase in the fractional values of the complement (C3, C4, CH50). The frequency of total remission at 12 months was 72.7% and, at 24 months, 85.7% (p =0.013). Partial remission occurred in 27.3% at 12 months and, in 14.3%, at 24 months. Male gender presented a lower rate of total remission compared with women at 12 months (45.5% versus 81.6%, p = 0.007). Among several factors studied, none was correlated with total or partial remission at 12 months. The subgroup "clinical class IV" presented a higher frequency of total remission than the subgroup "histological class IV". CONCLUSION: Our therapeutic approach achieved an excellent outcome in two years. Correlations between clinical and laboratory variables and total or partial remission were not observed. Male gender presented a lower rate of total remission compared with women. Despite the small number of patients studied and the controversies of renal biopsy, the rate of total remission was higher in patients with "clinical class IV" than in those with "histological class IV".