Silva, Mercês de Fátima dos Santos, 1983, Nunes, Everardo Duarte, 1936, Silva, Tania Elias Magno da, Lima, Nisia Trindade, L'Abbate, Solange, Barros, Nelson Filice de, Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Ciências Médicas, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, and UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Orientador: Everardo Duarte Nunes Tese (doutorado) ¿ Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas Resumo: Josué de Castro é um autor controverso no debate intelectual brasileiro, oscilando entre o reconhecimento de sua participação na construção de instituições científicas e políticas para formulações e ações de combate à fome e o "esquecimento" de seu legado intelectual como intérprete da realidade social brasileira nos debates acadêmicos. Entretanto, este "esquecimento" acadêmico vem sendo reelaborado nos diversos campos científicos pelos "militantes" e estudiosos de seu pensamento. São grupos de pesquisadores que dedicam seu tempo estudando a vida e/ou obra de nosso autor. Grosso modo, estes estudos dividem-se em dois grupos: os estudos memorialistas, que abordam a trajetória de vida de Castro, numa tentativa de resgate de sua obra, ressaltando o silêncio em torno da sua importância científica no Brasil; e os estudos relacionados ao pensamento social em saúde, que reconhece o legado do autor e não o considera como um autor esquecido, enfatizando que sua obra alcançou repercussão tanto no cenário nacional quanto no internacional, contribuindo para a institucionalização científica e política da nutrição no país e das políticas sociais. Sendo assim, apresentam-no como intérprete do pensamento social em saúde no Brasil, da geração de 1940-1960, defendendo que o núcleo discursivo de politização da fome, do posicionamento de ação social e pragmática de Josué de Castro contribuiu para melhor compreensão do processo de reconstrução nacional. De fato, os grandes temas de seus estudos, o problema da fome e o da subalimentação, condensados na trilogia: Geografia da Fome (1946), Geopolítica da Fome (1951) e o Livro Negro da Fome (1960) entram na agenda política do país a partir das discussões fomentadas nesses escritos. Tanto é assim que sua trajetória intelectual se confunde com os marcos norteadores da Política de Segurança Alimentar no Brasil. Praticamente a trajetória intelectual e política de Castro andaram juntas. De um lado, na coordenação de grupos de estudos, aulas, publicações, estudos de laboratório, pesquisas e análise sobre a situação alimentar da população brasileira que foram produzidos desde 1930, e na criação do curso de nutrição no início dos anos 1940. De outro lado, na elaboração de planos, programas, avaliação, participações em comissões e em cargos políticos voltados para a Segurança Alimentar. Partimos do pressuposto de que seu legado possui a lucidez de explicar as questões sócio-políticas acerca da nossa modernidade, em torno do debate sobre a nossa desigualdade social. Suas discussões indicavam que as nossas instituições sociais deveriam mudar, orientadas para maior inclusão social, mas as instituições foram na contramão desse projeto. Obviamente, como o retrato de nossa realidade social nos mostra, foi uma luta quase que solitária, poucos autores ousaram com tanto afinco a intervir nessa realidade, na sua empreitada de reconstruir um projeto de desenvolvimento baseado numa economia humanizada. Castro acreditava que essa reconstrução poderia esclarecer a gênese, a produção e reprodução social dos miseráveis e excluídos. Talvez o fracasso relativo de sua tentativa nos ajude a continuar a perseverar no seu esforço de captar a especificidade de nossa sociedade e na construção de "alternativas" de uma sociedade humanamente equitativa Abstract: Josué de Castro is a controversial author in the Brazilian intellectual debate, floating between the recognition of his participation in the construction of scientific and political institutions for the formulations and actions towards politics to combat hunger and the "oblivion" of his intellectual legacy as an interpreter of Brazilian social reality in academic debates. However, this academic "oblivion" has been re-formulated in various scientific fields by "militants" and scholars of his thought. They are groups of researchers that dedicate their time to study the life and/or work of our author. Roughly, these studies are divided into two groups: the memoir studies that addresses Castro¿s life trajectory in an attempt to rescue his work, pointing out the silence around its scientific importance in Brazil; and the studies related to social thinking in health, that recognizes the legacy of the author and do not consider him forgotten, emphasizing that his work reached repercussions both on national and international scene, contributing to nutrition¿s politic and scientific institutionalization in the country, together with social policies. Therefore, Josué de Castro is presented as an interpreter of the social thinking in health in Brazil, from the 1940-1960 generation, defending that his main argument centered on the politicization of hunger, as well as the social action and pragmatic positioning, contributed to a better understanding of the process of national reconstruction. Indeed, the great themes of his study, such as the problem of hunger and malnutrition are condensed in the trilogy: The Geography of Hunger (1946), The Geopolitics of Hunger (1951) and The Black Book of Hunger (1960) enter the country¿s political agenda as from discussions encouraged in these writings. What emphasizes this is that his intellectual trajectory is confused with the guiding landmarks of the Food Security Policy in Brazil. Castro¿s intellectual trajectory and politics virtually walked side by side. On the one hand, the author was coordinating study groups, giving lectures, making publications, working on laboratory studies, research and analysis on the food situation of the Brazilian population, produced since 1930, as well as creating the course of nutrition in the early 1940s. On the other hand, he was preparing plans, programs, evaluations, as well as participating in committees and political offices focused on Food Safety. We assume that his legacy has the lucidity to explain the socio-political issues about our modernity, in the debate regarding our social inequality. His discussions indicated that our social solutions should change, guided towards a higher social inclusion, but the institutions went on the opposite direction of this project. Evidently, as the picture of our social reality shows us, it was almost a lonely fight, as few authors have dared so hard to intervene in this reality, in its endeavor to rebuild a development project based on a humanized economy. Castro believed that this reconstruction could clarify the social genesis, production and reproduction of the poor and excluded. Perhaps the relative failure of his attempt helps us to continue persisting his efforts to capture the specificity of our society and the construction of "alternatives" to a humanly equitable society Doutorado Ciências Sociais em Saúde Doutora em Saúde Coletiva CAPES 01P-04349/2015