Este estudo analisou as formas de pensar, sentir e agir dos educandos do curso de Licenciatura em Educação do Campo em relação à violência no campo a partir da Teoria das Representações Sociais, identificando os movimentos (dinâmica) desses sujeitos, as ancoragens e objetivações e as contribuições da sua formação para a estruturação e processualidade de representações sociais. A violência no campo brasileiro tem origem histórica que pode ser remontada desde o processo de colonização (1500) até a atualidade, reforçada pela hegemonia e pelas práticas de desenvolvimento econômico rural em detrimento da resistência dos povos do campo, da qual surgiu a Educação do Campo como tensionamento dos movimentos sociais em busca da garantia de acesso à educação pública, gratuita e de qualidade a partir do paradigma do campesinato, agroecologia, coletividade, organicidade e protagonismo daqueles povos. A Licenciatura em Educação do Campo (LECampo) tornou-se uma das formas de expressão desse movimento pelo acesso à educação superior no Brasil, rompendo a precariedade e a ineficiência da educação campesina e violência sofridos pelos povos do campo. Como metodologia, os dados foram coletados a partir de questionários estruturados e entrevistas semiestruturadas. O grupo amostral foi composto pelos alunos do curso de LECampo da Faculdade de Educação da UFMG, sendo que foram aplicados 108 questionários e 17 entrevistas. Os dados foram analisados pela análise de trajetórias e por análise de conteúdo com suporte do software Iramuteq. Os resultados da análise de trajetórias apontaram que individualmente os participantes da pesquisa movimentaram suas RS em cinco possibilidades atitudinais: a) desistir de viver no campo; b) viver no campo numa condição de submissão; c) não perceber a violência; d) enfrentar a violência com propostas assistencialistas e e) resistir coletivamente em busca de melhores condições de vida no campo. Essas movimentações tiveram como elementos centrais a pressão à inferência, o lócus de interação social do sujeito entrevistado antes de adentrar na LECampo e a participação social atual (LECampo, movimentos sociais, situação de sua comunidade, etc), ou seja, elementos experienciais. A partir dessa exposição as entrevistas foram analisadas a partir do Iramuteq, a fim de verificar subgrupos, ancoragens e objetivações sobre o objeto. O corpus analítico foi subdividido em cinco classes: a) descrição dos sujeitos e objetos da violência (27,7%), mais presente em sujeitos com origem campesina e que iniciam sua trajetória naturalizando a violência; b) avaliação da informação e posicionamento quanto à violência (19,3%), preponderante em sujeitos do sexo feminino, sujeitos que finalizam sua trajetória resistindo coletivamente à violência; c) ações da coletividade e do movimento social campesino para com a violência (18,9%), preponderante em sujeitos envolvidos com a agricultura familiar e que terminam suas trajetórias resistindo à violência coletivamente; d) caracterização da violência, mais presente em sujeitos que iniciam suas trajetórias submetendo-se à violência no campo e e) educação e intervenção social diante da violência (16,1%), classe prescritiva, preponderante em sujeitos de origem campesina ou professores que atuam no campo, com posicionamento final na trajetória de assistencialismo, onde a palavra educação aparece como elemento de intervenção frente à violência comum no campo. As representações sociais também são instruções para a ação, nitidamente influenciadas pelas situações e formas de pressão à inferência. A vivência da violência, sua experiência, seja pessoal, coletiva ou a partir da memória de um povo, engendra as formas de representá-la, assim como, o envolvimento em movimentos sociais e no curso da LECampo também se mostrou como elemento de suma importância para a dinâmica representacional e para as mudanças de posicionamento dos sujeitos nos espaços sociais. Cette étude a analysé les manières de penser, de sentir et dagir par rapport à la violence en zone rurale à partir de la Théorie des Représentations Sociales, en identifiant les mouvements (la dynamique) des sujets, les ancrages, les objectivations et les contributions de la formation à la structuration et au processus des représentations sociales. La violence dans la zone rurale brésilienne a une origine historique allant du début de la colonisation (1500) à nos jours, renforcée par lhégémonie et par les pratiques de développement économique rural au détriment de la résistance des peuples ruraux. LÉducation du Champ a surgi à partir de la tension des mouvements sociaux à la recherche dune garantie daccès à léducation publique, gratuite et de qualité à partir du paradigme du paysannat, de lagroécologie, de la collectivité, de lorganicité et du protagonisme des peuples ruraux. La Licence en Éducation du Champ (LEChamp) est devenue lune des formes dexpression de ce mouvement pour laccès à léducation supérieure au Brésil de sorte à rompre la précarité et linefficacité de léducation rurale et la violence subies par les peuples ruraux. Comme méthodologie, les données ont été collectées à partir de questionnaires structurés et dentretiens semi-structurés. Léchantillonnage a été constitué par les élèves du cours de LEChamp de la Faculté dÉducation de lUFMG et ont été appliqués 108 questionnaires et 17 entretiens. Les données ont été analysées par lanalyse de trajectoires et par lanalyse de contenu à laide du logiciel Iramuteq. Les résultats de lanalyse de trajectoires ont indiqué que, individuellement, les sujets ont mû leurs Représentations Sociales sur cinq possibilités attitudinales : a) renoncer à vivre en zone rurale ; b) vivre en zone rurale dans des conditions de soumission ; c) ne pas remarquer la violence ; d) faire face à la violence avec des propositions assistancialistes et e) résister collectivement à la recherche de meilleures conditions de vie en zone rurale. Ces mouvements ont eu pour éléments centraux la pression à linférence, le locus dinteraction sociale du sujet interviewé avant dentrer dans la LEChamp et la participation sociale actuelle (LEChamp, mouvements sociaux, situation de sa communauté, etc.), cest-à-dire, des éléments expérientiels. À partir de cette exposition, les entretiens ont été analysés à partir de lIramuteq afin de vérifier des sous-groupes, des ancrages et des objectivations sur lobjet. Le corpus analytique a été sous-divisé en cinq classes : a) description des sujets et des objets de la violence (27,7%), plus présente chez des sujets dorigine paysanne et qui commencent leur trajectoire en naturalisant la violence ; b) évaluation de linformation et positionnement par rapport à la violence (19,3%), prépondérante chez des sujets du sexe féminin, des sujets qui finissent leur trajectoire en résistant collectivement à la violence ; c) actions de la collectivité et du mouvement social paysan par rapport à la violence (18,9%), prépondérante chez des sujets liés à lagriculture familiale et qui terminent leurs trajectoires en résistant à la violence collectivement ; d) caractérisation de la violence, plus présente chez des sujets qui commencent leurs trajectoires en se soumettant à la violence en zone rurale et e) éducation et intervention sociale face à la violence (16,1%), classe prescriptive, prépondérante chez des sujets dorigine paysanne ou des professeurs travaillant en zone rurale, avec un positionnement final sur la trajectoire dassistencialisme - voici où le mot éducation apparaît comme un élément dintervention face à la violence commune en zone rurale. Les représentations sociales sont aussi des instructions pour laction, nettement influencées par les situations et les formes de pression à linférence. La manière de vivre la violence, son expérience personnelle, collective ou à partir de la mémoire dun peuple engendre les manières de la représenter, ainsi que limplication dans des mouvements sociaux. Au cours de la LEChamp, on a également montré des éléments dune importance capitale pour la dynamique représentationnelle et pour les changements de positionnement des sujets dans les espaces sociaux