The present study aims to answer the question: what impact did the Heinrich event 2 have on the technological organization of human communities, at the onset of the Last Glacial Maximum, in south western Iberia? The impact of this event on the Gravettian-Solutrean transition has been previously suggested (Bradtmöller et al. 2012). However, the existing models do not consider the Proto-Solutrean technocomplex as an individual phase for this transition (Cascalheira & Bicho 2013). To address this question, this study analysed the lithic assemblages from Layers 5 and 4E of the site of Vale Boi (southern Portugal) and Levels U and T from Lapa do Picareiro (central Portugal). We aimed to understand the technological patterns and raw material exploitation during the Proto-Solutrean, and test the existing models with assemblages from recently excavated sites, while expanding the geographic range. The analysis followed a technological attributes approach. The retrieved data was fully analysed in R environment. Results show the existence of two discrete phases in each site. The first, with high frequency of quartz use for bladelet production, seems to reflect the presence, in both sites, of a Terminal Gravettian horizon, as defined by Almeida (2000). The second, with some significant differences between sites, attests the presence of Vale Comprido technology and lower quartz frequencies at Vale Boi, representing a Proto-Solutrean occupation; and the presence of a blade component in Lapa do Picareiro that, together with the respective absolute chronology, may attributed to a Proto-Solutrean or an Early Solutrean horizon. In general terms, this study allowed to confirm that the Terminal Gravettian and the Proto-Solutrean are discrete phases across the transiton, in concordance with the Three-Phase model presented by Zilhão (1997a). It further consolidates the expansion of similar techno-cultural patterns to southern Portugal, that may be explained by the expansion of social networks (Cascalheira & Bicho 2013). Associated with the dominance of different technological patterns and intensive use of quartz, we may understand these horizons as a moment of cultural reorganization, onset by environmental pressures. Heinrich 2 (HE 2) na (re)organização tecnológica das comunidades de caçadoresrecolectores no início do Último Máximo Glacial (UMG), no sudoeste Peninsular? Esta questão está intimamente ligada ao entendimento de certos eventos climáticos abruptos, tais como os eventos de Heinrich, com a substituição de culturas ao longo do Paleolítico Superior (Bradtmöller et al. 2012). Um destes momentos de substituição correlaciona a passagem entre os tecnocomplexos Gravetense e Solutrense com o evento HE 2, no ínicio do UMG. Neste paradigma, as mudanças climáticas desencadeiam mudanças sociais, através do colapso de tradições que depois são reorganizadas, de forma a corresponder às novas condições ambientais e paisagísticas. No entanto, nos modelos existentes, o Proto-Solutrense não surge como um tecnocomplexo individualizado, existindo assim uma lacuna no entendimento atual do processo de transição entre os dois horizontes culturais supramencionados (Cascalheira & Bicho 2013). O Proto-Solutrense, representado sobretudo na Estremadura Portuguesa, é entendido como um tecnocomplexo de transição, ocorrendo entre os 26 300 cal BP e 25 400 cal BP, e caracterizado por mudanças na tecnologia e preferência de matérias-primas, existindo dois modelos para a sua evolução: modelo em duas etapas e modelo em três etapas (Zilhão 1997a). O modelo em duas etapas considera a existência de um Gravetense Final e de um Proto-Solutrense, este último caracterizado pelo uso intensivo de quartzo, estratégias de produção para obtenção de lamelas em núcleos carenados e obtenção de suportes convergentes para pontas de Vale Comprido. O modelo em três etapas consiste na evolução do Gravetense Final para uma etapa intermédia (no modelo das duas etapas considerada uma fácies funcional do Proto-Solutrense), caracterizada pelo uso intensivo do quartzo, estratégias de redução para obtenção de lamelas em núcleos carenados, seguida de uma fase proto-solutrense caracterizada pela diminuição do uso do quartzo e estratégias de redução para obtenção de suportes convergentes para pontas de Vale Comprido. O conhecimento atual do Proto-Solutrense apresenta-se truncado, no entanto, pela antiguidade de algumas escavações e a sua restrição geográfica à Estremadura Portuguesa. De forma a responder à questão supramencionada, assim como contribuir para o conhecimento do Proto-Solutrense no sudoeste Peninsular, foram analisados os conjuntos líticos das camadas 5 e 4E do sítio arqueológico de Vale Boi (sul de Portugal) e das camadas U e T da Lapa do Picareiro (centro de Portugal), ambos escavados nos últimos 20 anos com recurso às mais recentes tecnologias de recolha de dados. Esta análise teve a finalidade de entender os padrões tecnológicos e de exploração do território durante a transição, através dos seguintes objetivos: 1) entender e explicar os padrões tecnológicos e de preferência de matérias-primas intra-sítio; 2) entender a existência de fases dentro das coleções estudadas; 3) testar os modelos de transição existentes para a Estremadura e entender possíveis variações geográficas. A análise seguiu uma abordagem de atributos tecnológicos e morfológicos, com base em estudos aplicados a coleções do Paleolítico Superior, e seguindo os conceitos definidos na literatura especializada (e.g. Tixier, 1980; 1963; Andrefsky, 1998; Inizan, 1999). Esta foi seguida de uma fase de tratamento estatístico através de estatística descritiva efetuada em ambiente R. A escrita da tese foi também realizada em R. Os resultados permitiram individualizar duas fases dentro de ambos os contextos: • uma fase mais antiga (em torno dos 27 ka cal BP na Lapa do Picareiro, e dos 26 ka cal BP em Vale Boi), atribuída ao Gravetense Terminal, presente nas camadas U e T inferior da Lapa do Picareiro, e nos niveís inferiores da camada 5 de Vale Boi - Terraço. Esta fase aparece caracterizada pelo uso extensivo de quartzo (~50%), maioritariamente para a obtenção de lamelas. Apesar de em ambos os sítios não ter sido detectada a presença de raspadeiras carenadas ou elementos carenados, típicos do Gravetense Terminal (Almeida 2000), a presença de lamelas de perfil encurvado intui para a utilização desta estratégia de redução. • uma fase mais recente (em torno dos 25 ka cal BP e dos 24 ka cal BP em Vale Boi) e com características ligeiramente distintas nos dois sítios, presente nos níveis centrais da camada T da Lapa do Picareiro, e no topo da camada 5 e camada 4E de Vale Boi. As diferenças inter-sítio permitem atribuir estas ocupações ao Proto-Solutrense em Vale Boi, mas levantam dúvidas quanto à atribuição na Lapa do Picareiro. Esta fase é caracterizada pela diminuição do uso de quartzo (continuando, no entanto, com uma frequência de ~30%) e aparecimento, em Vale Boi de uma sequência de redução para obtenção de suportes de tipo Vale Comprido, e na Lapa do Picareiro a presença de suportes com algumas características semelhantes (suportes alongados de bordos convergentes, marcados por negativos dorsais unidirecionais e plataformas simples), mas com algumas diferenças, tais como índices de carenagem baixos, levantando dúvidas quanto à sua atribuição a esquemas tecnológicos de Vale Comprido. De forma geral os resultados obtidos permitem sugerir que o modelo em três fases é aquele que melhor se adequa aos sítios estudados, sendo que a datação da ocupação mais recente da Lapa do Picareiro poderá, no entanto, representar uma fase de transição entre o Proto-Solutrense e o Solutrense Médio, uma fase ainda por identificar em Portugal (Zilhão 1997a).