Na sua obra bastante diversificada, embora de uma unidade surpreendente, o escritor brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1980) aborda um tema essencial: os embates entre Eros e Tânatos, já ilustrados pelo mito literário de Tristão e Isolda, paradigma do amor no Ocidente. Na poética do autor, o homem, marcado pela perda da inocência e consequente impureza adulta, só é capaz de viver o verdadeiro amor na morte. De fato, na raiz da paixão e do mito romântico do amor eterno, encontra-se a crença maniqueísta assente na dicotomia entre carne e espírito. A morte apresenta-se como única possibilidade de transfiguração, pois é ela que separará enfim o espírito da matéria. O corpo, central em sua obra, torna-se a sede das emoções, mas também é objeto de repulsa. É o papel preponderante atribuído às manifestações doentias, às sujeiras e aos líquidos secretados pelo corpo que explica a acusação de mau-gosto feita comumente à obra do autor, considerado como “desagradável” pelos críticos de sua época. Dans son œuvre, à la fois très diversifiée et très homogène, le Brésilien Nelson Rodrigues (1912-1980) aborde un thème essentiel : les affrontements entre Eros et Thanatos, illustrés par le mythe de Tristan et Isolde, paradigme de l’amour en Occident. Dans la poétique de cet auteur, l’homme, frappé par la perte de l’innocence et l’impureté adulte, ne peut connaître le véritable amour que dans la mort. En effet, à l’origine de la passion et du mythe romantique de l’amour éternel se trouve la croyance manichéenne basée sur la dichotomie entre la chair et l’esprit. La mort est la seule possibilité de transfiguration, car c’est elle qui séparera l’esprit de la matière. Le corps, élément central dans cette œuvre, est le siège des émotions, mais aussi un objet de répulsion. C’est le rôle majeur attribué aux maladies, saletés et liquides sécrétés par le corps qui explique l’accusation de mauvais goût souvent portée contre cette œuvre, jugée « désagréable » par les critiques de son époque. In his highly diversified, though surprisingly homogeneous, work, the Brazilian Nelson Rodrigues (1912-1980) deals with a crucial subject: the conflict between Eros and Thanatos, illustrated by the myth of Tristan and Isolde, paradigm of love in the western world. In the poetics of this author, man, struck by the loss of innocence and by adult impurity, only can know true love in death. Indeed, at the origin of passion and the romantic myth of eternal love is the Manichaean belief based on the dichotomy between flesh and spirit. Death is the only possibility of transfiguration, because it is death that will separate spirit from matter. The body, a central element in this work, is the seat of emotions, but also an object of repulsion. It is the major role attributed to diseases, dirt and liquids secreted by the body that explains the accusation of “bad taste” often leveled against this work, considered “unpleasant” by the literary critics from his time.